Somos presas acuadas por um único predador

A humanidade vive uma turbulência pandêmica. Os quase 8 bilhões de presas, isoladas em suas casas, estão sendo ameaçadas pelo mesmo predador, conhecido pelo nome de Covid-19. Este predador não faz acepção de pessoas, não é preconceituoso, xenófobo, racista, homofóbico. Ser pobre ou rico, crente ou ateu, do Sul ou do Norte, nada importa.

Com isso, a grande lição que esse predador nos deixa é a de que, sobre esta terra, ou nos salvaremos todos juntos ou nos pereceremos juntos. Se toda humanidade é uma presa ameaçada por um predador que não faz acepção de continente, de país ou de classe social, cabe a esta humanidade abraçar como projeto de vida o espírito de solidariedade e cooperação global em torno das grandes ameaças pandêmicas que colocam em risco o futuro do nosso planeta.

Para o filósofo e historiador israelense Yuval Harari, o que estamos vendo ao redor do mundo neste momento não é um desastre natural inevitável, mas um fracasso humano. Diz ele: “Governos irresponsáveis negligenciaram seus sistemas de saúde, falharam em reagir a tempo e atualmente ainda não conseguem cooperar efetivamente em nível global. Temos o poder de impedir isso, mas até agora não temos usado a sabedoria necessária”.

Obviamente, está fora do nosso alcance impedir o surgimento de novas pandemias seriais. Entretanto, por meio de uma cooperação global, usando de forma transparente e inteligente a ciência e as tecnologias disruptivas, podemos ter o controle das pragas e epidemias e impedir que matem milhões de pessoas e destruam a economia global, evitando, desse modo, a crescente recessão da política do bem-estar social dos países envolvidos.

Muitas lições podemos tirar da crise atual, como a lição de não continuar agindo com a lógica do passado, aquela de insistir governando de forma segregada, isolada. Problemas globais requer cooperação global. Nessa direção, Harari prevê nos próximos anos uma melhor cooperação em pelo menos cinco áreas:

1. compartilhar informações, de forma rápida, confiável e transparente, a fim de barrar a pandemia e desenvolver medicamentos e vacinas;

2. coordenar de forma justa a produção e distribuição global de equipamentos médicos essenciais, como kits de testes, equipamentos de proteção e máquinas respiratórias;

3. criar uma rede de segurança econômica global para salvar os países e setores mais atingidos. Isso é particularmente importante para os países mais pobres;

4. os países menos afetados devem enviar médicos, enfermeiros e especialistas para os países mais afetados, tanto para ajuda-los, quando para adquirir experiências valiosas.

5. formular um acordo global sobre a pré-triagem de viajantes, a fim de aumentar a segurança sanitária nas fronteiras dos continentes.

Enfim, a covid-19 nos ensina que estamos todos juntos, somos todos presas humanas, compartilhando as mesmas angústias, medos e interesses e, por isso, a solução mais sustentável e justa é adotar um plano global para combater as pandemias, que ocorrerão com mais frequência nas próximas décadas.