Qual a visão da Igreja Católica sobre Inteligência Artificial?



A inteligência artificial (IA) deixou de ser tema exclusivo de especialistas e já toca o cotidiano de todas as pessoas. Diante desse panorama, a Igreja Católica, por meio do seu Magistério, convida a refletir sobre como as novas tecnologias podem colaborar para a construção do Reino de Deus, salvaguardando a dignidade humana e o bem comum.


1. Primazia da dignidade humana

O Catecismo recorda que a ciência e a tecnologia são “recursos preciosos” quando colocados a serviço do homem e de seu desenvolvimento integral (CIC §2293-2295). Assim, qualquer sistema de IA deve reconhecer a pessoa não como mero “dado” num banco de algoritmos, mas como sujeito de direitos, criado à imagem e semelhança de Deus.

2. Algor-ética e responsabilidade

Em 2020, a Pontifical Academy for Life lançou o Rome Call for AI Ethics, propondo seis princípios que atravessam o ciclo de vida dos algoritmos (transparência, inclusão, responsabilidade, imparcialidade, confiabilidade e segurança). O Papa Francisco insiste que o progresso tecnológico deve ser inseparável do progresso ético, formando uma “algor-ética” que favoreça a justiça social.

3. IA a serviço do bem comum e da paz

Na Mensagem para o 57.º Dia Mundial da Paz (2024), o Papa alerta para os riscos de ampliar desigualdades e conflitos se a IA for guiada apenas por interesses econômicos ou militares; ao mesmo tempo, exorta-nos a fazer da tecnologia um instrumento de reconciliação e de prevenção de guerras.

4. Comunicação plenamente humana

O tema do 58.º Dia Mundial das Comunicações Sociais (2024) — “IA e a Sabedoria do Coração” — lembra que nenhuma máquina pode substituir o discernimento moral enraizado no amor. A comunicação mediada por IA deve cultivar empatia, veracidade e proximidade, jamais manipular a consciência das pessoas.

5. Desafios e caminho sinodal

O Compêndio da Doutrina Social da Igreja sublinha que a Igreja não oferece modelos técnicos, mas critérios morais (CDSI n. 458). Isso supõe diálogo entre cientistas, legisladores, educadores e pastores, num processo sinodal que promova regulação justa, formação de consciências e inclusão de povos e culturas marginalizadas no debate sobre IA.


Conclusão

O Magistério enxerga na inteligência artificial uma “oportunidade” que deve ser guiada por princípios evangélicos. Ao falar de algoritmos, falamos de pessoas, e servir à pessoa significa manter aceso o horizonte da esperança cristã: uma tecnologia que humaniza, em vez de desumanizar, e que anuncia “céus novos e terra nova” (cf. Ap 21, 1).


Referências

  1. Catecismo da Igreja Católica, §§ 2293-2295.catholicculture.org

  2. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 458.vatican.va

  3. Papa Francisco, Mensagem para o 57.º Dia Mundial da Paz — “A inteligência artificial e a paz” (8 dez 2023).vatican.va

  4. Papa Francisco, Mensagem para o 58.º Dia Mundial das Comunicações Sociais — “IA e a Sabedoria do Coração” (24 jan 2024).vatican.va

  5. Pontifical Academy for Life, Rome Call for AI Ethics (28 fev 2020; atualizações 2024).romecall.org

  6. Papa Francisco, Discurso aos participantes no Plenário da Pontifícia Academia para a Vida — “O ‘bom’ algoritmo?” (28 fev 2020).vatican.va


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