Como Mudanças Quantitativas em Tecnologia Transformam a Qualidade da Sociedade?


Hegel disse que "quando um fenômeno aumenta quantitativamente, há uma mudança qualitativa no ambiente". Em outras palavras, Hegel sugere que quando algo cresce em quantidade de forma significativa, isso pode levar a uma mudança na natureza ou na qualidade desse fenômeno, transformando a forma como ele afeta o ambiente. Essa ideia se aplica muito bem às mudanças que as tecnologias trazem para a sociedade. Quando pensamos em pesquisadores como Marshall McLuhan, Eric Havelock, Harold Innis e Pierre Levy, podemos ver como as tecnologias mudam não só a quantidade de informações, mas também a qualidade da nossa experiência e da cultura.

Marshall McLuhan e a Aldeia Global

Marshall McLuhan, por exemplo, disse que "o meio é a mensagem". Com isso, ele quer dizer que o tipo de tecnologia que usamos para nos comunicar afeta mais a sociedade do que o conteúdo da mensagem em si, porque o meio altera a maneira como percebemos e interagimos com o mundo. Quando a internet e os smartphones se espalham (quantidade), isso muda como pensamos, como nos organizamos e como vemos o mundo (qualidade). Essas mudanças não são apenas simples evoluções, mas pontos de transformação que mudam profundamente nossa forma de viver. Com as plataformas digitais, nossa visão da realidade mudou, criando uma "aldeia global" onde as fronteiras tradicionais desapareceram com a conectividade (McLuhan, 1964).

Eric Havelock e a Transformação da Cultura Escrita

Eric Havelock estudou a mudança da oralidade para a escrita e mostrou como essa nova tecnologia de comunicação transformou o modo de pensar e a sociedade. Por exemplo, a escrita permitiu que leis e conhecimentos fossem registrados de forma permanente, o que possibilitou o desenvolvimento de sistemas jurídicos e científicos mais complexos. Antes, a cultura era mais oral e comunitária, mas com a escrita, ela se tornou mais racional e baseada em ideias abstratas. De forma parecida, hoje estamos passando por outra transformação: o crescimento da comunicação digital está mudando a maneira como pensamos e nos relacionamos, moldando a cultura de uma nova forma (Havelock, 1986).

Harold Innis e o Controle do Espaço e Tempo

Harold Innis também falou sobre como as tecnologias de comunicação afetam o poder na sociedade. Por exemplo, o uso do papel favoreceu o controle do espaço, permitindo a expansão de impérios e a administração de grandes territórios de forma mais eficiente, enquanto a tradição oral favorecia o controle do tempo, preservando a memória e a cultura ao longo das gerações. Quando uma tecnologia se torna dominante, isso afeta quem tem poder e como esse poder é controlado. O aumento das tecnologias digitais, que são muito rápidas em espalhar informações, está mudando as relações de poder, enfraquecendo as formas tradicionais de controle e criando novas formas de resistência e influência. A descentralização da mídia, por exemplo, mostra como o aumento da tecnologia resulta em uma distribuição mais horizontal da informação e do poder (Innis, 1950).

Pierre Levy e a Inteligência Coletiva

Pierre Levy trouxe a ideia de "inteligência coletiva", que se torna possível pela conexão entre as pessoas no ciberespaço. No dia a dia, isso pode ser visto em coisas como fóruns online, onde pessoas de diferentes lugares contribuem com suas ideias para resolver problemas em conjunto, ou em plataformas colaborativas como a Wikipedia, onde muitos indivíduos trabalham juntos para criar e melhorar o conhecimento disponível. Com mais dispositivos e mais conexões (quantidade), há uma mudança na qualidade da própria inteligência humana, que se torna mais colaborativa e distribuída. Levy acredita que o aumento no uso da tecnologia digital leva a uma grande mudança na maneira como criamos conhecimento e nos organizamos. Com isso, temos uma nova forma de produzir conhecimento, que deixa de ser centrada em indivíduos ou instituições e passa a ser algo feito de forma coletiva e dinâmica (Levy, 1997).

Conclusão

Portanto, a ideia de Hegel sobre como mudanças quantitativas levam a mudanças qualitativas se aplica bem às mudanças que as tecnologias digitais estão trazendo para a cultura e a sociedade. O crescimento das tecnologias, como o aumento do acesso à internet e às redes sociais, leva a grandes mudanças na forma como nos relacionamos, percebemos o tempo e o espaço, e organizamos o poder e o conhecimento. Esses pensadores nos ajudam a entender que a tecnologia é uma condição essencial para alcançar qualquer objetivo — seja para transformar a cultura ou mudar as estruturas da sociedade.

Referências

Havelock, E. A. (1986). *The Muse Learns to Write: Reflections on Orality and Literacy from Antiquity to the Present*. Yale University Press.

Innis, H. A. (1950). *Empire and Communications*. University of Toronto Press.

Levy, P. (1997). *Collective Intelligence: Mankind's Emerging World in Cyberspace*. Perseus Books.

McLuhan, M. (1964). *Understanding Media: The Extensions of Man*. McGraw-Hill.


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