Como obter a sua cidadania digital?

 

Autonomia ONLIFE é o passaporte para a cidadania digital. A palavra cidadania remete a cidadão, uma pessoa ativa, lúcida, consciente dos seus direitos e deveres nas relações sociais. E aqui, inicialmente, faço a seguinte reflexão: qual o sentido do substantivo "cidadão", habitante de uma cidade, de uma pólis para uma pessoa que vive muito além dos muros das cidades? Faz sentido o termo "cidadania" para uma pessoa que rompeu os limites espaço-temporais, os limites físicos; faz sentido a palavra "cidadania" para uma pessoa que vive simultaneamente na cidade física e na cidade virtual, vive no ciberespaço?


Bem, enquanto não aparece uma nova palavra que descreva o homem onlife, lúcido, autônomo, consciente dos seus direitos e deveres nos ambientes on e off, físico e virtual, a gente continua tomando emprestado dos romanos a palavra cidadania para aplicar na nossa realidade Onlife


Todavia, com ou sem a palavra “cidadania”, o que nos interessa neste exato momento é compreender a urgência de aumentar a nossa taxa de autonomia onlife, porque sem ela, eu e você corremos o risco de sermos engolidos e manipulados por conflitos de interesses que movem a lógica dos algoritmos. Óbvio, os conflitos de interesses não são coisas do mundo digital. Eu e você também temos nossos interesses e brigamos por eles. Todos nós, de uma forma justa ou injusta, humana ou desumana, corremos atrás daquilo que melhor nos convém ou corresponde com os nossos interesses ou os interesses do nosso grupo. Por isso, elevar nossa autonomia significa reduzir nossa taxa de heteronomia.


O oposto de uma pessoa autônoma é uma pessoa governada e manipulada pelos interesses dos outros, uma pessoa que não tem clara consciência dos seus potenciais humanos, não tem consciência dos seus direitos e deveres, uma pessoa que não consegue perceber a jogada que há por detrás de um texto, de uma imagem, de uma mensagem, de uma plataforma digital, de uma mídia social ou por detrás de qualquer outra ação humana.


Para Platão, todos nós temos uma taxa "x" de heteronomia, ou seja, de dependência alienante, de escravidão, e a nossa missão neste mundo é reduzir essa taxa até o dia em que seremos mais livres, senhores dos nossos desejos, senhores de nós mesmos. Tomando como referência a "Alegoria da Caverna", o homem autônomo se sobressai quando a Luz afugenta as heteronomias (as sombras) refletidas nas paredes da nossa caverna, nas paredes da nossa alma interior.


Nesse contexto, a educação digital ou a alfabetização digital é a única via que eleva a nossa autonomia onlife. E essa educação digital é indispensável no universo acadêmico, independente se somos migrantes ou nativos digitais. Diariamente, sentimos a necessidade de compreender melhor a filosofia das inovações tecnológicas que movem a lógica dos algoritmos das plataformas digitais.


Este canal é uma gota que eleva a minha e a sua autonomia onlife, digital. Sabendo que eu e você temos taxas de autonomia e de heteromia distintas, cada um tomará a quantidade de gotas necessárias para reduzirmos nas palavras do filósofo Kant a "menoridade auto-imposta". Antes da internet, nós, o povão, não tínhamos o privilégio de possuir um canal de comunicação, em escala planetária, onde pudéssemos compartilhar informações, reflexões, estudos, etc.


Antes acessávamos canais de terceiros para informar e ser informado. O modelo de comunicação das mídias de massa pré-internet alimentava mais a nossa heteronomia do que a nossa autonomia. Dizia o filósofo Kant: “Se eu tenho um livro que pensa por mim, um pastor que age como se fosse minha consciência, um físico que prescreve minha dieta e assim sucessivamente, não tenho necessidade de empenhar-me por conta própria” (KANT, 2003, p. 2). Ou seja, alguém fazia quase tudo por nós.


Hoje, na era das redes digitais, a criança já cresce criando o seu próprio canal de comunicação, de interação com o mundo. Todos têm em mãos um dispositivo pelo qual podem criar seu canal e, por meio dele, acessar qualquer conteúdo, qualquer serviço, além de auto publicar conteúdos, produtos e serviços para qualquer pessoa, espalhada nos quatro cantos do mundo.


E para concluir pergunto: seu filho ou seu estudante têm autonomia digital suficiente para interagir e conviver com segurança nesse novo mundo?

Perceber esse ‘gap’ é entender o porquê a "autonomia onlife" é o passaporte para adquirir uma verdadeira "cidadania digital".

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