Mídias Digitais: "tou fora!"


Boa noite Fernando Magalhães, boa noite ouvintes do jornal 60 minutos.

Hoje, quero comentar a seguinte declaração feita por um senhor na casa dos seus 60 anos, residente na zona rural do município de Apodi. “Seu padre, há anos fiz uma opção de não usar nem celular e nem esse negócio de internet”.
A princípio, não vejo nada de extraordinário. Esse agricultor, usou simplesmente o seu livre arbítrio para tomar tal decisão. A pergunta que eu e você ouvinte podemos fazer é: o que esse senhor ganha e perde com uma decisão assim tão radical?

A primeira coisa que devemos levar em conta é o seu contexto social, o local onde ele vive.  Mora no sítio, trabalha na agricultura, tem dois filhos, ambos já casados e vivem no mesmo sítio. Portanto, esse senhor cresceu em um ambiente rural, tendo seus vizinhos como as únicas pessoas com quem ele conversa e se relaciona. E até onde percebi, ele parece satisfeito com o seu pequeno mundo relacional. Pela sua fala, sinto que tá bastante convicto de não quebrar os votos, isto é, morrer sem bulir nesse negócio de internet.

Em um mundo altamente conectado, todo mundo conversando com todo mundo, através do WhatsApp e de diversas outras mídias digitais, a escolha do agricultor é quase uma exceção à regra. Naturalmente, respeito sua decisão radical de não querer usar as novas mídias para alargar seus contatos e relações, todavia, não posso, como um pesquisador da cultura digital, usar o seu exemplo para relativizar a importância de uma nova mídia na sociedade.

Ao longo da história, o ser humano, por questão de sobrevivência, sempre escolhe a melhor tecnologia, a melhor mídia, pra viver melhor, para sofrer menos. Quando chegou a eletricidade, abandonamos a lamparina à querosene; quando inventaram o carro, abandonamos o cavalo para fazer longas viagens, como por exemplo, carregar sal no lombo de um animal de Mossoró para Apodi. Quando inventaram o correio eletrônico, abandonamos a carta escrita, hoje, quase ninguém escreve carta de papel, tudo passa pela internet, através de e-mails e redes sociais.

O mundo digital veio para ficar e atingir, direta ou indiretamente, 100 por cento da humanidade. Indiretamente, o agricultor já idoso que não quer usar novas mídias para se relacionar e se informar sofre as consequências da sua opção. Seguramente, a maioria absoluta do povo que habita no sítio do senhor agricultor, por exemplo, seus dois filhos, netos, parentes e amigos, usam o WhatsApp e outras mídias digitais e constroem seus papos diários nas rodas de conversas a partir daquilo que eles compartilham nas redes sociais.

Em geral, decisões extremistas trazem graves consequências; assim como esse agricultor trocou há décadas o seu cavalo pelo carro para fazer sua feira na cidade de Apodi; trocou a lamparina pela luz elétrica, ele ganharia bem mais em conhecimento e talvez em qualidade de vida, se interagisse no grupo do WhatsApp da sua comunidade e oxalá usasse a internet para alargar suas relações sociais e sua compreensão de mundo.

Como diz o ditado popular, nem 8, nem 80, a virtude está no equilíbrio das nossas decisões. Assim como faz mal para o nosso sistema sensorial, cognitivo usar excessivamente o livro, a televisão, a internet, o Facebook, o WhatsApp, da mesma forma, faz muito mal não usar nenhuma das tecnologias inventadas nas últimas décadas. Ganharia muito mais o agricultor e todos nós se um dia vivêssemos com sabedoria e equilíbrio na ambiência cultural das novas tecnologias. Talvacy Chaves para o 60 minutos.

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