Ditaduras digitais


Boa noite Fernando Magalhães, boa noite ouvintes do jornal 60 minutos

O risco das ditaduras digitais é o meu comentário de hoje. É um tema urgente porque estamos sempre mais dependentes dos algoritmos e da inteligência artificial. Até você que não usa internet no seu celular, mas que usa o seu cartão de crédito pra parcelar suas compras, também está sendo vigiado por aqueles que ditam as regras do mercado e da cultura em geral.

O risco da ditadura digital foi pauta de estudo e debate no Fórum Econômico Mundial no mês passado em Davos, na Suíça.

Uma das questões levantadas pelo historiador israelense, Huval Harari, foi: qual será o significado da vida humana, quando a maioria das decisões é tomada por algoritmos? 

Você, ouvinte, que usa regularmente a internet, sente, por experiência, o poder que os algoritmos têm em decidir por você, ao exibir o que se deve comprar, ler, assistir, etc.

Atualmente, bilhões de pessoas confiam no algoritmo do Facebook para mostrar as notícias que mais nos interessam ou as pessoas que mais se identificam com o nosso perfil; confiamos no algoritmo do Youtube ao nos mostrar os vídeos que mais temos hábito de ver; no algoritmo do Google quando nos diz o que é verdade e o que não é; a Netflix quando nos diz quais os melhores filmes que nos agradam e os algoritmos da Amazon ou do Mercado Livre ao nos sugerir o que comprar.

Segundo o historiador Harari, em um futuro não tão distante, algoritmos semelhantes podem nos dizer onde trabalhar e com quem se casar e também decidir se nos contratam para um emprego, se nos concedem um empréstimo e se o banco central deve aumentar a taxa de juros.

E se você perguntar por que você não recebeu um empréstimo e por que o banco não aumentou a taxa de juros, a resposta será sempre a mesma – porque o computador diz que não. E ficará por isso mesmo.

O poder dos algoritmos de invadir seres humanos, de tomar decisões em nosso lugar, pode ser usado para o nosso bem – como, por exemplo, fornecer assistência médica em tempo real, nos garantir uma maior segurança, fazer em nosso lugar, trabalhos repetitivos e pesados, mas também pode ser usado com más intenções pelos ditadores políticos, econômicos e culturais do século XXI. E já temos o ensaio de ditaduras digitais, semelhantes àquelas do século XX, causadoras de guerras mundiais, exterminando milhões de pessoas.

Portanto, é do interesse de todos nós, incluindo as elites políticas e econômicas de, primeiro, tomar consciência dos riscos das emergentes ditaduras digitais e, em seguida, criar alternativas para reduzir o perigo dos algoritmos, quando eles são capazes de violar o que há de mais sagrado e belo no ser humano, isto é, a liberdade de viver, sendo senhor de suas escolhas e de sua própria vida.
Talvacy Chaves para o 60 minutos.

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