Com o quarentena do Covid 19, o Sagrado se fez bit


Boa noite Fernando Magalhães e ouvintes do 60 minutos.
Com o coronavírus, o sagrado verdadeiramente se fez bit e veio habitar no meio de nós. Vejamos!

Há 70 mil anos, o sagrado se revelou na “palavra”. Há aproximadamente 7 mil anos, ele se revelou na escrita; na segunda metade do século passado, o sagrado se manifestou, acanhadamente, no digital. Todavia, somente com o #ficaremcasa para se proteger do coronavírus, o sagrado, verdadeiramente se manifesta sem medo nos ambientes digitais para continuar bem pertinho dos seus seguidores.

Historicamente, o sagrado foi uma propriedade quase exclusiva das religiões. Ele apareceu há milhares de anos com a ousada missão de dar respostas às grandes questões existenciais e espirituais do ser humano. O fim do apogeu do sagrado deu-se com o início da era moderna, quando o mundo ocidental fez a passagem do teocentrismo para o humanocentrismo.

Porém, mesmo em tempos de grandes saltos científicos e tecnológicos, a fome pelo sagrado não se acabou, continuou latente na vida humana, porque, segundo algumas correntes de estudos, essa fome pelo sagrado, pelo transcendente, é algo inerente ao ser humano, isto é, o homem sempre buscou o divino e continuará sempre, não obstante todas as mudanças antropológicas e culturais dos últimos tempos.

Um claro reflexo disso está nas timelines das redes sociais nesse período de coronavírus, quando todo mundo é obrigado a ficar em casa. Quase todos os representantes do sagrado – padres, pastores, líderes religiosos em geral – caíram na real e perceberam que o sagrado também pode ser invocado, celebrado e sentido pelos crentes, através das redes digitais. Perceberam que também podem saciar, parcialmente, a fome dos fiéis pelo sagrado, por meio de ‘live’ no facebook, vídeos e áudios no WhatsApp e diversas outras expressões digitais.

Após o fim da pandemia do coronavírus, muitos líderes religiosos terão descobertos as facilidades de realizar encontros, formações, louvores, cultos e celebrações pelas mídias sociais. Em contrapartida, os fiéis também irão cobrar dos seus gurus religiosos a continuidade deles nos espaços digitais, a fim de atender, de forma mais cômoda e personalizada suas carências espirituais.

Muitos fiéis nunca tinham se sentido tão próximos, virtualmente, dos seus líderes religiosos, como nesses dias de quarentena. Se, de um lado, a quarentena distanciou fisicamente o fiel do padre ou pastor, do outro lado, a quarentena conectou espiritualmente o fiel do seu líder religioso. Por meio das redes sociais, o pastor e o padre estão reservando boa parte do seu tempo para rezar e conversar com seus fiéis, responder suas perguntas, curtir e comentar suas interações nas páginas do facebook, Instagram, YouTube, WhatsApp, entre outros.

Portanto, após o coronavírus, os líderes do sagrado terão mais consciência de que Deus se manifesta tão bem nas igrejas digitais como nas igrejas físicas e que, ignorar os fiéis fomentos do sagrado nas redes digitais é deixa-los mais vulneráveis à histeria religiosa abusiva presente nas praças virtuais.

Enfim, hipotiso o seguinte cenário: ou os líderes religiosos – padres e pastores – rezam e interagem no ambiente digital com os seus seguidores, atendendo da melhor forma possível suas necessidades espirituais ou verão a perda deles em escala crescente para os novos representantes do sagrado, por estes oferecerem um atendimento espiritual personalizado e híbrido, isto é, por revelarem o rosto do sagrado tão bem nos espaços digitais como nos espaços tradicionais. Talvacy Chaves para o 60 minutos.

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