Autonomia Comunicativa Digital


Boa noite Fernando Magalhães, boa noite ouvintes do jornal 60 minutos. Abordo no comentário de hoje o tema da autonomia comunicativa digital. Nos últimos anos, o celular tornou-se uma extensão do nosso cérebro, do nosso corpo, tornou-se talvez a companhia mais preciosa da nossa vida. Ele é uma das causas da revolução civilizacional que estamos inaugurando.

Você ouvinte, que nasceu antes da era do celular, sabe do quanto era difícil, caro e lento ter contato via telefone com alguém. Lembro aqui do tempo da Telern, quando ainda não existia o orelhão. No início da década de 90, morando no sítio, a gente ia para a cidade mais próxima pegar uma fila no único telefone público da cidade na esperança de falar com algum amigo ou familiar que morava em São Paulo, por exemplo. Com um sistema telefônico bastante precário, a telefonista tentava várias vezes para conseguir completar a ligação. Claro, muitas vezes a gente voltava pra casa frustrado por não ter tido êxito na ligação. E mais, o custo da ligação era alto, o preço variava de acordo com o horário.

Anos depois, chega o celular. No início somente gente rica podia comprar o seu, além do aparelho ser caro, também era caro um minuto de ligação. O tempo foi passando e o preço foi se tornando cada vez mais popular. Hoje, tem mais celular ativo no Brasil do que gente. Segundo o IBGE, numa população de 210 milhões existem mais de 230 milhões de celulares ativos.

Pegando o exemplo de minha mãe, que, na década de 90, andava kms para pegar uma fila no distrito mais próximo do seu sítio, na esperança de falar com seus filhos, através de um único telefone público da vila, hoje, minha mãe, por meio do WhatsApp, da varanda da sua casa ou de qualquer outro lugar, se comunica, gratuitamente, com todos os seus filhos, irmãos, parentes e amigos, espalhados em várias regiões do Brasil.

Se para os mais jovens, a autonomia comunicativa digital trouxe liberdade para alargar suas relações, diversões, amizades, liberdade para acessar qualquer conhecimento e aprender qualquer coisa; para as pessoas idosas, sobretudo, aquelas que vivem na zona rural, distante dos seus familiares e amigos, a autonomia comunicativa por meio do WhatsApp garantiu-lhes a diminuição da solidão e do abandono, deu-lhes poder de voz. Por exemplo, se antes do celular, minha mãe falava uma vez a cada três meses com os seus filhos espalhados pelo mundo, hoje, ela fala com eles diariamente.

Depois, se até pouco tempo, o telefone era um objeto de gente rica, só o possuía quem tinha muito dinheiro para comprar o aparelho e pagar mensamente a taxa da linha telefônica, hoje toda pessoa, por mais simples que seja, carrega um celular no bolso para se comunicar com as pessoas dos seus ciclos relacionais, de qualquer lugar e em qualquer momento, sem precisar pegar fila e muito menos pedir permissão a ninguém.

É fato, vivemos a maior autonomia comunicativa da história humana. O questionamento que podemos fazer é: será que sabemos lidar com essa autonomia comunicativa? Será que estamos usando essa inédita autonomia comunicativa para emancipar a nossa autonomia pessoal, intelectual, espiritual e cívica? Talvacy Chaves para o 60 minutos.

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