Você pode ser um autocrata, um ignorante ou um besta qualquer, NUNCA um democrata

Você, isso mesmo, você de direita, do centro ou de esquerda que quer ganhar do seu adversário usando a arma da violência, do ódio, do moralismo religioso, você que se reveste do discurso neopopulista reacionário e/ou revolucionário, você pode ser tudo, menos um democrata ou um defensor da democracia. 

Não só você era um ignorante, eu também. Eu pensava que democracia era a arte de guerrear, de transformar o adversário em um inimigo, de incitar dois projetos com sentimentos antagônicos: o do bem e o do mal, do positivo e negativo. Foi a busca pelo conhecimento autônomo que me fez sair dessa visão simplista das coisas. Somos muito maior do que qualquer percepção dualista da realidade, professada pelas instituições de plantão. 

Somente o conhecimento pode nos libertar. Por coerção ou por opção, cada um tem uma bolha de conhecimento. Cada um pensa e age a partir da bolha política, religiosa, familiar, cultural que vive. Por isso, a percepção da realidade é subjetiva, cada um tem a sua. Para haver portanto trocas de saberes, de conhecimento, para haver relação com o diferente (adversário), o princípio é a tolerância, o diálogo e o respeito.

Independente do resultado final, a democracia, como um modo de vida e um jeito civilizado de interagir na sociedade, já foi gravemente violada nestas eleições. Vivi e vivo a intolerância e o discurso de ódio na minha família, na minha religião, entre amigos. Sinceramente, nunca tinha vivido algo semelhante. 

Embora não tenha votado e não votarei (título cancelado, por viver na Europa desde 2016 e não ter feito a biometria), meu candidato teria sido Ciro, por sonhar com um Brasil fora desse neopopulismo reacionário e fascista (Bolsonarismo) e do neopopulismo revolucionário autoritário (lulopetismo/haddad). A arrogância autoritária e vingativa de Lula de não querer fazer uma união com a esquerda e o centro, tendo Ciro como uma das figuras centrais na chapa, foi o estopim da minha decepção. Não é fácil ver um partido que sempre acreditei, trocar o bem do Brasil pelo egoísmo e vaidade partidária. Como escreveu a ilustre escritora e jornalista Eliane Brum “Lula é um grande líder, mas não um estadista. Moveu-se nesta eleição por vingança, não pelo bem do Brasil”.

Há tempo venho perdendo a crença nesse dualismo esquizofrênico de fazer política, instalado em nosso país, nesse “nós” contra “eles”, nessas narrativas extremistas que não conseguem exaltar seu partido sem satanizar o do adversário. A democracia só voltará ao seu estado natural, só teremos democracia como um modo de vida, como uma praça de conversação (nos moldes de Atenas), quando os discursos autocráticos e violentos presentes nos dois extremos forem substituídos por uma polarização civilizada de projetos viáveis que contemplem, acima de qualquer ideologia partidária, a garantia dos direitos humanos básicos, sobretudo, a garantia do BEM VIVER, isto é, da liberdade, da paz e da justiça social.

Nenhum dos dois projetos de governo em jogo me representa. Aquele que mais me afinava foi abortado no primeiro turno. A narrativa do PT - embora seja a melhor do jogo neste segundo turno, e aquela que me deu esperança e alimentou minha veia política nas últimas décadas - não acredito e, portanto, não me representa mais. Por várias razões, aqui destaco duas: a de me prometer que não seria um partido corrupto como os demais, de não fazer fisiologismo e conluio com o que havia de mais nefasto no cenário político nacional e a segunda razão, o de nunca fazer uma autocrítica pelos crimes políticos cometidos. O PT nisso se apequenizou demais, pedir perdão, de fato, é atitude de gente grande.

Todavia, nada justifica votar em Bolsonaro, é injustificável votar em quem, não apenas viola a democracia, mas que revelou odiar a democracia em várias de suas falas, em quem foge do diálogo, em quem usa todo tipo de violência para expressar suas convicções políticas, o de incitar o uso de armas, de defender a tortura e de atirar para matar. Na minha percepção, é injustificável votar em quem já teve atitudes misóginas, racistas, xenófobas, em quem é contra a igualdade de gênero, contra os gays, os indígenas, e, acima de tudo, por usar o seu machismo autoritário para agredir e desrespeitar as mulheres.

Torci para não ver um segundo turno polarizado e violento assim. O centrão esquerda poderia ter evitado. O ego petista foi maior que o bem comum. Agora, resta unirmos para desfazer o erro que eles cometeram e salvar o país de uma catástrofe maior. Como reza Castells, um dos sociológicos mais respeitado do mundo, “em uma situação assim, nenhum intelectual, nenhum democrata, nenhuma pessoa responsável do mundo pode ficar indiferente”. #EleNão

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