Vale do Silício: Epicentro da Revolução Digital

Visitar o Vale do Silício, o berço da invenção das tecnologias digitais do planeta, foi a experiência mais excitante que vivi nos Estados Unidos. É no Vale, localizado na Bahia de São Francisco, Califórnia, onde se reúnem as maiores mentes inovadoras e disruptivas do mundo tecnológico dos últimos cinquenta anos. 

Foi parido no Vale o meu primeiro computador que me conectou com o mundo no final do milênio. Conectado na internet, o computador pessoal provocou a maior revolução na história da comunicação humana. O mundo deixou de ser um estranho, ele veio ao nosso encontro, ficou pequeno, hoje cabe na palma da nossa mão. 

O Museu da História do Computador foi uma das minhas curtidas preferidas. Gastei um dia todo viajando dentro da história secular do computador. Lá pude tocar nas primeiras tecnologias inventadas, ver e ouvir em audiovisual os inventores que inverteram a pirâmide do acesso aos meios de comunicação no final do século XX: de receptores passivos e excluídos do acesso direto aos canais (rádio, jornal, TV), passamos a ser sujeitos ativos e possuidores de canais com alcance planetário (Twitter, Face, blog, etc). 

Embora a história da invenção do digital tenha nascido bem antes, foi somente a partir da década de 50 do século passado que o governo americano começou a investir na descentralização do sistema comunicativo, com a finalidade de reduzir o risco de uma “pane” geral, caso os Estados Unidos sofressem um ataque terrorista (nuclear) dos países inimigos. 

Porém, a ousadia de mentes espiritualizadas e revolucionárias foi muito mais além. Não queriam que os novos aparatos comunicativos servissem apenas ao status quo. Desobedecendo aos paradigmas dominantes da época, jovens universitários, inquietos com os convencionais padrões culturais, considerados por eles como uma “cultura morta”, começaram a construir uma “cultura alternativa”, um modelo de vida pautado na liberdade e na autonomia.  
Para isso, era necessário empoderar o povo com novos meios,  garantindo-lhe o acesso direto aos meios para produzir e consumir conhecimento. 

As mentes mais disruptivas estavam fora do mundo “normal”. Foram os “desobedientes da ordem” que nos presentearam com a internet que temos, com o smartphone e todos os seus poderes, e muito mais. Os inquietos universitários, que queriam mudar o mundo, eram considerados subversivos, não bem aceitos, muitos eram expulsos. Com a liberdade tolhida pelas estruturas lineares e tradicionais, passaram a transformar garagens, bares e parques em verdadeiras “incubadoras”, ambientes que, progressivamente, pariram este meu smartphone que agora uso para digitar este texto, estudar, rezar, divertir, interagir e conversar em tempo real com as pessoas que amo de qualquer lugar do mundo. 

Os que pensam estranhamente foram quase sempre ignorados na história, porém, foram eles figuras centrais na reinvenção do mundo que hoje vivemos. Começando desde lá detrás, por filósofos gregos, passando por figuras modernas como Newton, Lutero, Darwin, Einstein, Descartes, até chegar aos meninos dos nossos dias, muitos deles anônimos, fora dos ambientes culturais convencionais. 

Por esse motivo, visitar o Vale do Silício para mim é, antes de tudo, reconhecer e agradecer o bem que os inventores lá no início fizeram para que hoje eu pudesse viajar o mundo sem medo, tirar qualquer dúvida sobre qualquer coisa na web, expressar livremente  meus sonhos, minhas convicções, compartilhar com milhares o projeto de mundo, de Igreja, o projeto de vida que sonho ver no futuro e, acima de tudo, destaco a libertação que a rede está me causando, quando ela me oferece os diversos ângulos de ver o mundo, através do eco das milhões de vozes, deixando-me assim, mais tolerante e aberto às inúmeras interpretações e percepções que cada pessoa, cada cultura, cada realidade tem de si e do mundo que os cercam.

Clareando, aqui não aplaudo, muito menos defendo o monopólio das tecnologias de comunicação concentrado nas mãos de um pequeno grupo (Google, Apple, Microsoft, Intel, Facebook), possuidor, portanto, de todos os nossos dados. [Penso que a grande batalha do futuro será a briga pela descentralização do Big data]. 

Invés, a relevância de pisar no Vale californiano é por saber que foi nele onde foi parido - por mentes utópicas, revolucionárias e ambiciosas, oriundas de muitas partes do mundo - quase todas as tecnologias disruptivas, influenciadores da grande guinada cultural, porque não dizer, civilizacional, que a humanidade viverá nas próximas décadas.  

Hoje ainda não, todavia, penso que no futuro não tão distante, visitar o Vale do Silício será tão significante para as gerações filhas da cultura digital, quanto é significante visitar Meca para os muçulmanos e o Vaticano para os católicos.

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