Uma noiva esquisita, mas é com ela que vou...

Alguns colegas ainda continuam estranhando o meu noivado com o pensamento da Escola Canadense de Comunicação. Literalmente, transformei meu blog em um ambiente de reflexão, na área de comunicação digital, partindo sempre da corrente filosófica e teórica de McLuhan, Pierre Lévy e seus companheiros.

Escolhi-a porque é, na minha percepção, a melhor Escola que estuda e explica as rupturas de mídia na sociedade e as suas consequências nas organizações e, em geral, na vida humana. Por exemplo, o que significa a chegada de uma nova mídia disruptiva na sociedade? Na História, quais foram as principais revoluções culturais ocorridas e qual a influência da mídia nessas revoluções? A Escola Canadense nos faz perceber as grandes rupturas cognitivas provocadas pelas mídias, ao longo da história humana.

Antes, estudava as mídias de forma aleatória e individualizada, preso aos efeitos de cada tecnologia na atual cultura, fixado no presente, sem fazer uma analogia com as revoluções comunicativas ocorridas no passado. Partia sempre de uma estratégia indutiva, analisando, por exemplo, o impacto do Twitter, Facebook, ou outra mídia qualquer, dentro de uma determinada instituição. 

Hoje, em vez de ficar preso ao “mosquito” que está picando as organizações, procuro ter uma macrovisão do cenário, percebendo as mudanças mentais, culturais, importadas pelas mídias disruptivas, no decorrer da história.

Quando analisamos a História, não corremos o risco de cometer um diagnóstico abstrato e superficial do presente. Ao contrário: passamos a lê-lo com mais propriedade, com o intuito de nos projetarmos para o futuro, utilizando-nos de fundamentos históricos e livrando-nos de possíveis “achismos”. A título de ilustração, ao observarmos o presente mundo digital, perguntamo-nos: em que momentos na história, podemos visualizar algo parecido como este, que agora vivemos? Sem muito esforço, percebemos algo semelhante em alguns períodos da história humana.

Seguindo esse viés, percebemos que McLuhan - o pensador comunicólogo do meado do século passado - além de apresentar os efeitos da mídia na sociedade, no decorrer da história, constrói as bases filosóficas e teóricas para interpretar a comunicação do século XXI. Com ele, percorro um caminho que está revolucionando o meu modo de perceber o universo da comunicação no qual estou inserido. 

Continuo colado na sua principal obra, “Understanding Media”, que foi lançada nos anos sessenta. Os últimos textos aqui publicados são resumos comentados de temas, na referida obra, abordados. Analisando esse clássico da comunicação, que vê os meios como extensões do nosso corpo, verificamos que McLuhan, no capítulo de hoje, afirma que a camisa e a calça são meios de comunicação, extensões da nossa pele. 

De acordo com esse raciocínio, constatamos que a casa onde moro é, também, extensão dos nossos órgãos, “prolonga os mecanismos internos de controle térmico de nosso organismo”. Ou seja, "se a roupa é uma extensão da pele para guardar e distribuir nosso próprio calor e energia, a habitação é um meio coletivo de atingir o mesmo fim”. (McLuhan, 1964, p. 143).  Da mesma forma, a cidade igualmente expande o corpo humano e é feita com a finalidade de atender às necessidades da pessoa bem como das organizações sociais.

Morando na cidade, o homem letrado e civilizado, ressalta McLuhan, sente a necessidade de dividir as funções: cada pessoa passa a ter uma especialização assim como passa a viver, cada uma, no seu espaço privado. Já o homem tribal estranha, choca-se, porque a cidade murada rouba a dimensão universal da relação cósmica, divinal, limita seu espaço, além de recortar o mundo em “mundinhos”.  

Todos esses meios - roupa, casa, cidade, além do sapato e chapéu - moldam as estruturas perceptivas do ser humano. Só estudando a fundo cada meio para entender a expressão mcluana “o meio é a mensagem”. Nessa perspectiva, McLuhan cita o exemplo da chegada da luz. A luz é informação, é a mensagem. Com ela, “o mundo foi colocado numa moldura, a noite virou dia, toda hora é hora de trabalhar. A iluminação como extensão de nossas energias é um dos exemplos mais nítidos de como essas extensões alteram a nossa percepção (McLuhan, 1964, p. 149).

A nossa percepção das coisas é, portanto, fortemente influenciada pelo meio em que vivemos. Sem necessidade de ir muito longe, basta analisar a diferença da percepção da realidade entre mim e meu avô paterno. Ele, mesmo vivendo no século XXI, na era das tecnologias intuitivas e digitais, continua preso ao seu modo de vida da era da pré-internet e até da pré-eletrônica. Nunca quis relação com nenhum objeto eletrônico, muito menos, digital.

Se essa diferença mental e cultural é visível entre mim e vovô, veremos uma mudança perceptiva da realidade mais aguçada ainda entre mim e os nascidos na era digital. 

Enfim, quanto mais mergulhamos no pensamento da Escola Canadense, mais visualizamos, ao nosso redor, o célebre pensamento macluano “o meio é a mensagem”. 

Referência:
MCLUHAN Marshall, Os meios de comunicação como extensões do homem (understanding media), São Paulo, Cultrix, 1964.

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