Mostra-me que lentes usas, e te direi quem tu és
"A vida só pode ser entendida olhando para trás, mas ela deve ser vivida olhando para frente" Kierkegaard
O
pensamento acima, do teólogo e filósofo dinamarquês Kierkegaard, leva-me a
pensar e avaliar o modo como venho interpretando o mundo ao meu entorno. Não
basta fotografar a realidade presente para entender a complexidade do mundo: quanto mais viajamos no passado, mais
compreendemos o presente e melhor nos preparamos para encararmos o futuro.
Já entrei
em conflito comigo mesmo e com o outro, ao querer, em um passe de mágica,
explicação e resposta aos macroproblemas seculares, presentes em nossos ambientes e organismos. Muitas vezes,
contentava-me em analisar a conjuntura atual, usando apenas uma lente
interpretativa, ou resumindo-me apenas a uma leitura da presente realidade, ignorando, quase sempre, a história e as outras maneiras de perceber a vida.
Por
vivermos em uma cultura imediatista, do “carpe diem”, corremos um grande risco
de querermos fixar demais o
rosto na realidade, sem permitirmos um espaço sequer para respirarmos aliviados. Quando, por exemplo, queremos contemplar uma obra de arte, não colamos
o nariz nela. Ao contrário: damos uma
certa distância, para vermos o todo e, a partir dele, contemplarmos as partes, os mínimos detalhes
daquela obra. Nesse sentido, quando não dispomos de tempo e espaço para analisarmos as causas e os porquês da atual macro
realidade, que, geralmente, estão no passado, podemos
cometer injustiças, ou ficarmos patinando em conceitos obsoletos, sem
conseguirmos os resultados desejados.
Nessa
perspectiva, as inquietações e angústias que acompanham a nossa vida nos
ensinam que não há respostas completas, acabadas para uma realidade incompleta, inacabada;
há respostas mais eficazes ou melhores. Amanhã, a realidade nos pede novas interpretações,
novas respostas, para atenderem às demandas de um novo cérebro humano e
social. É frustrador ousar interpretar a realidade presente apenas com as lentes
do presente: além de
fazermos uma leitura vazia e medíocre, podemos cometer uma grande injustiça com
todos os atores e fenômenos que precederam e influenciaram a construção da atual realidade.
Ultimamente, venho usando lentes variadas para analisar o “meio” onde
vivo. Na academia, tive a oportunidade de estudar a sociedade-rede emergente,
lendo fontes diversas. Comparando com o pensamento de autores aos quais tive
acesso, as teorias da Escola Canadense
de Comunicação são as que mais estão me ajudando a pensar de forma alargada,
partindo de uma estratégia mais dedutiva, lógica e histórica. Na minha percepção, é a escola que melhor
ilumina e interpreta a influência das tecnologias na sociedade.
Assim, os adeptos da Escola Canadense não apenas estudam as revoluções
tecnológicas, mas nos dão o suporte teórico, histórico, filosófico e
metodológico para interpretarmos os
fenômenos sociais e as crises pelas quais passam todas as instituições, à luz
da massificação das “tecnologias disruptivas”, que tem sempre alterado o modo de o homem pensar, viver e trabalhar, em
períodos pontuais, ao longo da história da humanidade.
Aqui, no Brasil, o professor e escritor
Carlos Nepomuceno é uma extensão da Escola Canadense. Ele traduz com muita
precisão, para o nosso mundo sul-americano, aquilo que McLuhan, Pierre Levy e
outros descrevem sobre as revoluções cognitivas e sociais que ocorreram/ocorrem
na história, com a invenção das tecnologias.
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