Férias na roça com as mídias digitais: o que muda?

No barulho da cidade, corro o risco de passar despercebida a minha adesão (quase por osmose) ao ambiente das novas tecnologias. 

Invés, daqui, do silêncio da rosa, sentado na calçada da casa onde nasci e me criei, contemplando a beleza da serra, o sol que se põe, o cachorro que late, o berro do bezerro, mamãe que canta enquanto varre o terreiro, começo a pensar e questionar sobre o que a técnica significa na minha vida.

É fato. A minha vida antes da imersão nas tecnologias digitais era uma; a minha vida dentro do ambiente digital é outra, totalmente outra. 

Pouco tenho estudado sobre os efeitos das tecnologias na minha vida. Já andei pesquisando sobre o impacto das mídias sociais nas agências de jornalismo, na educação, enfim, o que está mudando na sociedade com a expansão das tecnologias digitais. 

E na minha vida? E nos meus estudos? E na minha missão? A imersão nas tecnologias aumentou ou diminuiu a minha qualidade de vida?

De cara diria que seria patético da minha parte não reconhecer o tremendo bem que o mundo digital causou e causa na minha vida. Em todos os sentidos. Começando pelas minhas férias na roça. Quando saí de casa pra estudar, há pouco tempo, menos de duas décadas atrás, aqui, na casa do meus pais, não tinha energia, nem água encanada. A carta era a única forma de comunicação; o rádio, o único meio de informação. 

Sem muito exagero, pelas características dos dois ambientes, mesmo no final do século XX, vivi duas distintas eras: a pre-tecnológica e agora, a era tecnológica.
Quando eu chegava de férias na década de 90, a primeira coisa que fazia nos primeiros dias era visitar todas as casas dos tios e tias, amigos e amigas da vizinhança. O objetivo principal da visita era pra perguntar como vai, quais são as novidades e por aí a conversa se desabrochava. 

Hoje, por saber de quase tudo o que acontece na vida da minha família e dos amigos da redondeza, por meio do zap zap, do facebook, etc., a visita quase já não existe mais. Pergunto-me: visitar para quê? Já vi por meio do Facebook até a cor dos olhos do bezerro mais novo do tio fulano, imagine das outras coisas, como aniversário do sobrinho, a compra do último carro, a nova pintura da casa, etc.  

É claro, saber de tudo o que acontece pelas mídias sociais é uma coisa; saber por meio da conversa presencial, do abraço, do olho no olho, é outra coisa. Além disso, sabemos que há muita gente, sobretudo, a geração mais idosa, que ainda não se familiarizou com as novas mídias. Embora saibamos das novidades contadas por seus filhos e netos pelas mídias sociais, muitos dos idosos continuam vivendo no mundo pré-tecnológico, ou seja, dependem exclusivamente dos meios tradicionais (conversa, um telefonema, uma carta) para acompanhar as novidades que acontecem na vida da família que mora em cidades distantes.  
Hoje, feriadão de carnaval, na velha casa onde nasci, aqui estou. Da cadeira de balanço para a rede da sala, graças às novas tecnologias, vivo simultaneamente, de um lado, a magia do sítio: o silêncio, o aconchego dos pais, a paz da roça e, do outro lado, através das tecnologias digitais, acompanho ao vivo o desfile da minha escola de samba no Rio de Janeiro, interajo com amigos e familiares espalhados no mundo, como também, acompanho ao vivo o papa Francisco na praça São Pedro e, também, pelo smartphone, fico informado em tempo real dos principais acontecimentos no Brasil e o mundo.

Graças às novas tecnologias digitais, o céu está ficando bem pertinho da terra. Quanto mais e melhor imergirmos nas novas tecnologias, mais o céu esparramará sobre a terra.

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