Os sonhos do povo de Mossoró não cabem nas urnas do próximo domingo

O resultado das urnas de 4 de maio revelará a desmoralização da representação política mossoroense. Isso ficará evidente no altíssimo número de votos nulos, brancos e abstenções que profetizo no próximo domingo.   

Há uma descrença generalizada na política em Mossoró, e não somente. O povo não se sente mais representado nos vereadores, deputados, muito menos, nos prefeitos. Com exceção das famílias que têm empregos ligados à prefeitura ou cargos comissionados, o povão se autoquestiona: como alguém pode me representar a partir de 4 de maio se as práticas viciosas continuam; se o cinismo e a demagogia nos debates são os mesmos do século XIX; se a taxa de corrupção e de impunidade cresce sempre mais na arena política.

Se a maioria do povo não acredita mais na democracia representativa – como vimos nas manifestações que eclodiram ao redor do mundo, reivindicando o surgimento de “uma democracia real já” – não poderia ser diferente também em Mossoró, quando somos vítimas de um sistema político autocrático, excludente, empresarial e caduco.

Dizemos: a melhor arma do cidadão é o voto. Tudo bem. Porém essa afirmação tem sentido quando o eleitor se sente representado no candidato. Quando não, pensa o eleitor: votar pra quê? Como gritava o povo em junho de 2013: “nossos sonhos não cabem mais em suas urnas”. Por isso, a necessidade urgente de reinventar uma nova democracia e, portanto, uma nova governança.

É ilusão aplicar o antigo jeito de politizar após as manifestações que aconteceram ultimamente em mais de 100 países. Tem uma juventude indignada, infeliz com as velhas práticas de governança. Com a rede há um ser humano em gestação, que quer interagir, que quer honestidade e transparência nos espaços públicos, quer participar.  Os políticos devem saber que o mundo não é mais o mesmo com a presença ativa do povo na cultura digital.

É obvio que a maior motivação que levou e leva o povo pra rua são as injustiças e a falência da democracia representativa. Todavia, para que esse grito de indignação articulasse dezenas de países e ecoasse no mundo todo contamos com a valiosa presença da internet.

A internet faz parte da vida do povo. No Brasil, mais de 100 milhões estão conectados. Essas pessoas não engolem facilmente esse jeito medieval de fazer campanha e de governar. Muita gente da rede ridiculariza o candidato ou candidata que se coloca como a solução para todos os problemas; que faz campanha com a mesma linguagem e a mesma retórica da era pré-internet, quando, naquela época, não tínhamos acesso à mídia, muito menos, tínhamos redes sociais para denunciar, criticar e expressar livremente o que pensamos.

Quando escuto discursos inflamados e infundados de candidatos, pergunto-me: será que são tão ingênuos a ponto de achar que nos convencerão com esse jeito autoritário, centralizador e arrogante? O que eles pensam da gente?

Tenho vontade de chegar no ouvido dele(a) e cochichar: ei moço, calma aí, não precisa disso tudo, se toca, já é século XXI, estamos antenados, sabemos quem são vocês e quais são suas intenções. Vocês não nos convencem mais com discursos e abraços enganadores.

Na era da rede, os políticos são intimados a baixar suas taxas de imoralidade, de arrogância e de hipocrisia.  O povo está se acordando e agora tem voz, pode verbalizar o que pensa a respeito deles através das mídias sociais. Antes da internet, enganar era fácil, os candidatos se maquiavam, ficavam escondidos por trás do rádio e da tv. A única relação que a maioria do eleitorado tinha com o candidato era por meio da mídia tradicional, ou seja, era mil vezes mais fácil enganar o eleitor com retórica e sorrisos.  Na tv e rádio tudo era tão lindo e perfeito que pareciam anjos voando.

Hoje, caro candidato, vocês estão nus ou quase nus. Por meio da interação na rede, quebramos os muros que separavam o eleitor do candidato. Hoje, cada eleitor tem seu canal de comunicação (twitter, facebook, etc), e, por meio dele, pode chegar bem próximo do político e até interagir com ele.

Por isso, que os políticos dinossauros que enganavam o eleitor com seus discursos fabricados odeiam a internet porque ela quebrou o mito que havia por trás do candidato. Outros odeiam a Internet porque agora não podem mentir tanto, rapidinho alguém chega e diz: ei candidato, você tá mentindo, isso e aquilo não foi o senhor que fez.

Acredito que, ainda na minha geração, viveremos uma nova democracia e uma nova governança. Ela não virá do alto, dos políticos que têm medo da rede e do povo. Ela virá da turma antenada e politizada. Ela virá de um mundo altamente conectado. Já sentimos alguns tremores dessa nova governança. Eles aparecem de repente e sem avisar. Por exemplo, alguém previu as manifestações de junho de 2013? Alguém prevê algo semelhante no mês da copa? São fenômenos novos que surgem com a sociedade rede.

Nós, habitantes da rede, temos os meios necessários para fazer valer nossa cidadania e juntos reinventar uma nova democracia participativa e, portanto, um novo jeito interativo, popular e horizontal de governar em Mossoró e no país. Eu acredito!

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