Reflexão da noite de Natal - Deus com saudade da gente
Nesta noite de Natal, todos nós, consciente ou
inconscientemente, caminhamos na direção da gruta de Belém, na companhia dos
pastores para visitar e adorar o recém-nascido.
Nesta noite, um clima de
paz, de ternura e de compaixão toma conta da nossa vida e nos
leva a abraçar a todos que estão pertinho da gente. Não poderia ser diferente
porque é o próprio Deus que toca na gente, que entra em nossa vida e nos enche
de esperança.
É Deus com saudade das suas criaturas, desce para
viver a nossa humanidade com o objetivo de nos fazer pessoas divinas, libertas,
cheias de graça. É Deus que pisa na nossa terra para fertilizá-la, para soprar
vida plena, sobretudo, na vida das pessoas sem perspectivas, sem direção, que
vivem sem esperança e sem sentido pra viver. No Natal, as portas da esperança
se abrem porque o Emanuel vem nos divinizar, vem nos encher de vida e ternura, vem nos salvar.
Disse o papa Francisco: no Natal, uma energia
espiritual toma conta do mundo. Essa energia não nos deixa "abater
pelos nossos cansaços, nossos desesperos, nossas tristezas, porque é uma
energia que aquece e transforma o coração. O nascimento de Jesus, de fato, nos
traz a bela notícia de que somos amados imensamente e singularmente por Deus”.
Todavia, a visita de Deus em nossa história não foi
de bom grado para os donos do mundo. O temor se apoderou sobre o rei Herodes.
Para ele, Jesus viria tomar o seu trono, por isso, não o acolheram, fecharam
todas as portas. José e Maria, horas antes do parto, sofreram uma grande
solidão e abandono. Passaram a noite pedindo socorro para descansar e assim
acolher com dignidade o menino Jesus que estava para nascer.
Disse o papa: a visita de Deus em nossa
história não se deu em um mundo das maravilhas, mas em meio a um mundo
"caracterizado por tantas coisas boas e ruins, marcado por divisões,
maldades, pobreza, prepotência e guerras. Ele escolheu habitar na nossa
história assim como é, com todo o peso dos seus limites e dos seus dramas”.
Não foram os prepotentes deste mundo quem primeiro
acolheram Jesus, mas aqueles que eram marginalizados pela sociedade de então:
os pastores. Os pastores foram os primeiros que receberam a Boa Notícia
do Natal de Jesus. "Eu anuncio a vocês a Boa Notícia, que será uma grande
alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um
Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: vocês
encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura”.
Quem eram os pastores? Eram pessoas "odiadas por
não respeitar as propriedades alheias, ocupando-as com seus rebanhos”. Segundo
o Talmud babilônico, principal livro doutrinal da religião judaica, “um pastor não
podia ser testemunha nos tribunais, por causa da má fama e do desrespeito à propriedade”.
Os pastores não eram, portanto, considerados "pessoas de bem".
Hoje, a partir da nossa realidade, quem seriam os
pastores? Hoje, em Mossoró, quem, sem hipocrisia, primeiro visitaria o menino Jesus e quem Jesus
visitaria por primeiro?
- Preferencialmente, Jesus visitaria as quase duzentas mães mossoroenses
que viram seus filhos assassinados no mundo da criminalidade, somente neste
ano. Jesus visitaria as mães das crianças mortas, outras baleadas, entre elas,
um bebê de três meses da nossa paróquia, também vítima de bala perdida, no
portão da sua casa, no Abolição III, domingo passado.
- Jesus visitaria os "moradores de rua”, que a
sociedade injusta rejeita, exclui e até mata, por meio da indiferença e da prática
silenciosa do extermínio;
- Jesus visitaria os "presos”, considerados
“lixo humano” por esta sociedade hipócrita. Por isso, são jogados nos
porões dos infernos, verdadeiros depósitos de imundícies, sem a mínima
estrutura socioeducativa;
- Jesus visitaria os "subempregados” que não são tratados como gente, explorados por seus patrões e patroas, pessoas gananciosas que visam somente o
lucro;
- Jesus visitaria os “doentes” da nossa cidade,
sobretudo as crianças e idosos, que morrem à toa nas filas e nos corredores dos
hospitais, por não contar com uma saúde pública de qualidade.
- Jesus visitaria as periferias da nossa cidade,
carentes de políticas públicas, totalmente abandonadas pelos gestores públicos.
Enfim, Jesus visitaria todos os que reconhecem Nele a
ternura, a misericórdia e a justiça de Deus pela humanidade.
No Natal, toda a humanidade é convidada – disse o
papa – a “reconhecer na face do próximo, especialmente dos mais fracos e
marginalizados, a imagem do Filho de Deus feito homem”.
Portanto, Natal, mais do que trocar presentes, é tempo de
trocar humanidade, compaixão, amor, ternura. É tempo de olhar para todos e dizer, sem distinção: nós te amamos!
Feliz Natal!
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