Por que o padre tem partido?
Pra início de conversa, não é uma ofensa, ao
contrário, uma honra. Prefiro mil vezes ser confundido com um militante do PT a
ser confundido com um militante do DEM, do PMN ou qualquer outro partido.
Escrevo isso porque, ultimamente, quando faço
qualquer comentário político nas redes sociais, algumas pessoas me taxam de petista. Em parte, tem razão, porque, entre as dezenas de ideologias
partidárias, aquela que mais me identifica ainda é a do Partido dos
Trabalhadores. Mesmo quando não entendia nada de política, eu já votava no
PT.
Por ter sido ordenado padre, não passei uma
borracha no meu cérebro pra apagar minhas convicções ideológicas. Não acredito
em ser humano neutro: nem padre, nem juiz, nem professor, nem babá. Serei
neutro somente no caixão. E olhe lá!
Não sou um padre neutro porque busco ser
discípulo de um Mestre que morreu na cruz por nunca ter sido neutro. Jesus foi
condenado e crucificado pelo poder romano porque tomou partido, ficou do lado
dos pobres. Diante de um reino que excluía a maioria do povo, Jesus chega e
implanta um Reino Novo, um Reino que inclui todas as pessoas,
preferencialmente, os mais pobres. E mais. Ele não só ficou do lado da massa
excluída de Israel, mas denunciou profeticamente os abusos do poder romano e
religioso.
Como outrora, hoje, muitas pessoas continuam se comprometendo com o partido de Jesus, libertando as pessoas e lutando
por um mundo menos desumano e com menos desigualdade social. A Igreja é o lugar privilegiado de sensibilizar o povo para abraçar a causa de Jesus. Porém, é na Política (com "P" grande, não apenas partidária) que
essa causa cria assas.
Dizia o papa Paulo VI: “a política é a forma
mais sublime de exercer a caridade”.
Não existe ser humano que não faça política.
Fazemos política ou por omissão, ou por participação. O “ser” padre em mim não
anula o meu “ser” político, a minha cidadania, ao contrário. O voto é uma
das formas, talvez a mais simples, de exercer a cidadania. O título de eleitor do
padre não é de mentirinha.
Até que apareça outro partido menos ruim do que o PT, continuarei votando no Partido dos Trabalhadores. Confesso que já tive mil
razões pra votar nele. Hoje, invés, quando vejo a corrupção intoxicando as cabeças
pensantes do PT, não me motiva mais reacender aquela estrela que me levava a
vestir a camisa e defender com garra as ideologias do meu partido.
É evidente. O poder corrompeu o PT e causou
escândalo nas pessoas que imaginavam um partido vacinado contra a corrupção.
Claro, pura ingenuidade. Se todo ser humano é corrompido pelo pecado, logo…
Não obstante tudo, o PT nos últimos anos foi o
partido que melhor fez pelos mais pobres do nosso país. Não é demagogia, os dados
oficiais estão aí, dezenas de milhões de brasileiros saíram da miséria. Isso é
apenas um fio de cabelo de muitos outros programas sociais que estão, pouco a pouco, mudando a
cara do nosso país.
Enquanto os outros partidos governavam
privilegiando a elite do país, deixando a massa excluída na periferia dos seus
discursos e projetos, o Partido dos Trabalhadores – com todas as suas mazelas e
contradições – coloca como uma das suas prioridades, a erradicação da miséria.
Somente isso me basta pra continuar tendo ainda
esperança no PT. No dia em que aparecer outro partido com um programa de
governo mais inclusivo e que cuide melhor dos pobres do que o governo atual,
mudarei rapidinho, com muito prazer.
Como cidadão, não sou um petista radical, fechado, como
alguns pensam. Busco ser flexível e dialogar com todos. Sei reconhecer o “bom”
que existe em cada partido, em cada pessoa. O processo de amadurecimento
espiritual, humano e político dá-se na abertura e no diálogo com a diversidade.
Sou padre de uma Igreja com pessoas de várias
linhas de espiritualidades, de carismas diversos, bem como, com pessoas de
várias ideologias políticas.
A Igreja, portanto, é essa grande mesa, da
comunhão e da participação, onde, na diversidade de carismas e ideias, todos
nos tornamos irmãos e irmãs, ninguém é excluído.
Pelo menos, este é o sonho de Deus, que é, também,
nosso.
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