Noite das CEBs na Festa de São João

Gostaria de situar nossa conversa em três momentos: primeiro, olhar as CEBs na sua compreensão macro; segundo, entender porque as CEBs são uma resposta à Igreja do Terceiro Milênio e, por último, conceituar o novo rosto das CEBs.

Um teólogo franciscano escreveu recentemente que o papa Francisco está inaugurando o Terceiro Milênio com um novo modelo eclesial: Igreja, como  uma rede de pequenas comunidades.


Disse o franciscano que o primeiro milênio do cristianismo foi marcado pelo espírito de comunidades autônomas, os cristãos viviam em pequenas comunidades, tinham tudo em comum, ninguém passava necessidade.

O segundo milênio foi marcado pela Igreja como sociedade perfeita, infalível, hierarquizada. A Idade Média foi a era de ouro desta Igreja sem mancha. Tudo era centrado na cúria romana, houve a romanização de toda a cristandade. Oficializou-se a separação estrita entre o clero e os leigos. Foi nessa fase que se expandiram as arquiteturas das Igrejas que rondam ainda hoje em nossas cabeças (Igreja estilo ônibus, o presbitério separado do povo, clara distinção entre o sagrado e o profano).

E agora, com a entrada do papa Francisco, inaugura o modelo de Igreja do terceiro milênio, que é a Igreja como uma rede de comunidades cristãs, enraizadas nas diferentes culturas, tendo como referência o modelo das primeiras comunidades cristãs presentes nos Atos dos Apóstolos. Neste modelo, a Igreja terá como protagonista os leigos e leigas, animados pelos ministros ordenados.

É verdade, estamos encantados com o Papa Francisco aquecendo e vitalizando esse jeito de ser Igreja, comunidade de comunidades, ou rede de pequenas comunidades de base. Todavia, já no início da metade do século passado, e,  de forma mais sistemática,  a partir do Concílio Vaticano II, as CEBs  vêm fazendo história.

Na América Latina e no Brasil, as CEBs se infiltraram nas veias do nosso povo, sobretudo, o povo da zona rural e das periferias das grandes cidades. As CEBs, como uma nova forma de organizar, protagonizaram as grandes mudanças sociais e eclesiais nas décadas de 70 e 80 aqui no Brasil e em muitos países da América Latina. Lutaram diretamente a favor da redemocratização do Brasil, durante os anos sombrios do Regime Militar. A partir das CEBs, movimentos sociais, associações de moradores, sindicatos, clubes de mães, entre outros foram criados nas camadas populares, tanta na cidade como no campo.

Por que o papa Francisco e também os bispos, reunidos em Aparecida, apontam as CEBs como resposta à Igreja do Terceiro Milênio?

Primeiro, o percentual de católicos que chega em nossas paróquias pra participar da missa dominical é muito baixo. Qual o percentual? 

Segundo, é baixíssimo o número de padres em proporção às necessidades de milhares de comunidades que passam meses sem a presença de um ministro ordenado. No brasil, temos, hoje, aproximadamente 22 mil padres. Para minimizar a carência de padres na vida das comunidades, precisaríamos de, no mínimo, 120 mil padres.

Terceiro, é imenso o número de distanciados que nunca fizeram uma experiência de comunidade, de vivência cristã. Os fiéis vão esporadicamente à Igreja, mas não criam relação fraterna, sentimento de pertença. São como visitadores, entram na Igreja, observam de longe, mas não se engajam e assumem para si a responsabilidade de cuidar e viver em comunidade. Esse tipo de católico é mais evidente na zona urbana (80% da população do país  está vivendo na cidade). 

Diante desses desafios e outros, o documento de Aparecida alerta que é urgente a criação de novas estruturas pastorais na zona urbana, “visto que muitas delas nasceram em outras épocas para responder as necessidades do âmbito rural”.

“A renovação das paróquias no início do terceiro milênio exige a reformulação de suas estruturas, para que seja uma rede de comunidades e grupos, capazes de se articular, conseguindo que seus membros se sintam realmente discípulos e missionários de Jesus Cristo”

O que caracteriza as CEBs? Usando um viés pedagógico, Sérgio Ricardo desenha o rosto da CEB com 5 C’s:
  • Círculos bíblicos: a partir do método ver-julgar-agir, a comunidade aponta os problemas, ilumina-os com a Palavra de Deus e, juntos, buscam soluções. (martyria).
  • Catequese ou grupos de catequistas na comunidade; (kerygma).
  • Celebração semanal: geralmente da Palavra com ou sem distribuição da Eucaristia. (leiturghia)
  • Conselho Pastoral Comunitário e equipe de coordenação (koinonia)
  • Compromisso sociotransformador por meio das diversas pastorais (da terra, da criança... (diakonia).
Para concluir, podemos dizer que as CEBs são reuniões de pessoas que se organizam em torno da paróquia, capelas, centros comunitários, onde os membros podem estabelecer laços comunitários efetivos entre si, a fim de rezar, refletir e transformar a realidade à luz da Palavra de Deus.

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