Hoje, “Na mesa de vovó é assim”. E ontem?

Há, mas ou menos, 15 anos, na mesa de vovó havia somente um rádio. E para ser mais claro, ele não ficava em cima da mesa da cozinha de vovó, mas numa mesinha, na sala, bem protegido, coberto com um pano bordado e sobre o grande radio de marca “Semp”, um pequeno jarro com flores de plástico. 

Essa foto da mesa enfeitada de aparelhos foi tirada por minha sobrinha com o seu celular, na virada do ano, e, no mesmo instante, ela publicou no Facebook, acompanhada com a frase: "na mesa de vovó é assim". A foto fez-me pensar e a perceber esse novo mundo de aparelhos e novidades tecnológicas que temos disponíveis. De um simples rádio, que funcionava apenas para escutar alguns programas - porque não havia energia e as pilhas eram caras – para um oceano de tecnologias revolucionárias: ipad, macBook, iphone, smartphone, laptops. 

A casa de meus pais é no sítio, longe dos rumores da cidade, sem movimento de carro porque não há nenhuma casa depois da dos meus pais. Há 15 anos, quando nós, filhos, vínhamos de férias, todo o contato que tínhamos com o mundo era somente através do rádio. Contentávamos com as informações vindas da rádio de São Miguel e da de Cajazeiras. 

Hoje, lá em casa, para nós, filhos, o rádio e a televisão ficam em segundo plano, sem muita importância. Após o almoço, é hábito irmos todos pra sala e lá, uns deitam em redes, outros no sofá e, quem quer um lugar mais frio, deita no chão. Na instante, a televisão continua ignorada, desligada. 

Por outro lado, cada um pega seu aparelho (smartphone, ipad, laptop) e se conecta na internet - seja através da rede sem fim (wifi) ou pelo plano 3G das operadoras – para saber o que está acontecendo ao redor do mundo. As informações do rádio local não têm muita importância porque vivemos em cidades distantes (Natal, Mossoró, Teresina, etc). Daí, cada um se conecta nas informações direcionadas à sua região e ao seu campo de interesse. 

É incrível o silêncio quando todos estão conectados na sala. A sensação é que todos estão dormindo. Para não perturbar o silêncio, quando um quer saber algo do outro, deitado ao lado, manda uma mensagem pelo Facebook ou pelo WhatsApp. Incrível.

O que mais gruda a gente são as redes sociais. Nelas, no Twitter e Facebook, estão as notícias filtradas, aquelas sugeridas pelos nossos amigos. Na rede alargamos as nossas relações, a nossa família, as nossas amizades. E aqui vem o risco, ou seja, estamos em famílias e não desgrudamos dos nossos aparelhos, dos amigos online. Eles aparecem em diversas praças: Twitter, Facebook, Messenger, Foursquare, Pinterest, Instagram, Blog. 

Os nossos pais são os únicos que ainda vivem no mundo do rádio e da televisão, não navegam neste novo oceano digital. Eles ficam olhando com curiosidade para o nosso comportamento, sem entender direito o que estar acontecendo. 

É uma mudança radical na nossa vida, quase impensável comparar com o nosso mundo no tempo do rádio. Nunca se consumiu tanta informação, perdemos o controle, vivemos, ao mesmo tempo, felizes e angustiados. 

Em meio ao lúdico, às fantasias da rede, terminamos perdendo muito tempo com bobeira, com brincadeiras, com conversas sem norte. É compreensível porque somos ainda crianças sedentas que vamos com sede ao pote, que queremos comer de uma vez só a lata de doce. A sensação é de que estamos navegando no raso, na água suja de lama. Ainda não temos conhecimento ou maturidade suficiente pra entrar em águas mais profundas. 

O fato é que estamos todos aprendendo. Daqui a pouco, iremos rir das nossas bobagens, dos tempos perdidos. É tarde demais. Porém, como todo ciclo vital tem suas fases, talvez, a fase que o ciclo de vida da era digital esteja vivendo seja esse mesmo: de navegar sem meta, de gastar tempo sem resultado, de dizer bobeira. Num sei.

Todavia, atenção. Já há milhões de jovens ao redor do mundo que estão revolucionando suas vidas e a própria sociedade através da Internet. As mudanças que sonhamos ver em nossa sociedade passarão pela interação na rede, pelo compartilhamento de capital social. Os movimentos sociais que eclodiram ultimamente no mundo, como o “15M”, “Occupy Wall Street”, “Primavera Árabe” e tantos outros, todos eles passaram pela rede. 

Concluo parafraseando o expert do mundo 2.0, Gil Giardelli: 
O maior avanço do século XXI não é digital, é social e moral. É a época das grandes verdades, da transparência radical, da inteligência universal, do livre-arbítrio, da autoridade moral, das ideias transformadoras e da ciência dentro da espiritualidade”.

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