O que Mossoró tem haver com isso?

A crise da democracia representativa e a oposição às políticas neoliberais são as principais características dos indignados, espalhados em mais de 1000 focos, em aproximadamente 100 países.

Manuel Castells, um dos grandes sociólogos do nosso tempo, comparando o fenômeno dos indignados com a cultura das redes, afirma que, o modelo predominante nas manifestações é o do wiki, onde qualquer pessoa pode participar, sem filtros.

De que sistema nos indignamos? pergunta Castells,

"Muitos diriam capitalismo, mais é algo pouco útil: há muitos capitalismos". Com essa afirmação, Castells revela que: maior do que a patologia do sistema, a indignação presente nas praças provém do resultado das consequências do capitalismo. Porém, vai além disso, a indignação se estende também à gestão política.

A política invés de proteger o bem-estar social, usa o dinheiro do cidadão para salvar o capital financeiro, os grandes banqueiros. Assim sendo, diz Castells que, a outra característica da crise é a política. Daí, o fato dos indignados gritarem em praça pública, usando o slogan "esse tipo de política que está aí não nos representa". Os partidos usam o Estado para seus interesses. Depois, os políticos se auto-absorvem da corrupção porque eles têm o poder de controlar/silenciar a cúpula do Poder Judiciário, diz Castells.

"Protegido desta forma, o poder político pactua com os outros dois poderes: o Financeiro e o Midiático, que estão profundamente imbricados. Enquanto a dívida econômica puder ser rolada, e a comunicação controlada, as pessoas tocarão suas vidas passivamente. Esse é o sistema. Por isso, acreditavam-se invencíveis."

Essa aliança, segundo Castells, entre os poderes políticos, econômicos e midiáticos, fechados entre si, com o objetivo de proteger os interesses dos 1% da população, está chegando ao fim. A sociedade, através da autocomunicação de massa (as redes sociais), está rompendo com esse ciclo patológico e se perguntando sobre as raízes da crise: as pessoas, cada uma com suas ideias, pedem:

- que os bancos paguem a crise; que haja fiscalização e controle na política; que a internet seja livre;

- defendem uma economia da criatividade e um modo de vida sustentável.

- e o mais bonito é a necessidade de reinventar a democracia, a partir de valores como a participação, a transparência, prestação de contas ao povo.

O apelo do povo por um novo modo de ser/fazer política, emergindo nos quatro cantos do mundo, nasce depois de viver décadas sob um tipo de corrupção sistêmica que assola nas administrações públicas.

Se fecho os olhos e viajo lá pro meu ranchinho, sítio Bartolomeu, consigo recordar a corrupção que assolou naquele pequeno município do Venha Ver e, talvez, ainda maltrata centenas de funcionários, agricultores, sob a inocência dos meus familiares e conterrâneos.

Em Mossoró, seria submissão da minha parte, usar o verbo no passado. A corrupção é, de muitas décadas, uma patologia petrificada nos poderes públicos daquela querida terra de Santa Luzia.

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