Internet, tema da segunda conversa com os jovens de Santa Luzia

Olá galera! prontos pra mais uma conversa? Então, vamos lá. Como havia prometido no texto anterior, neste falaria de “Redes Sociais”. Começo, no entanto, furando a promessa por questão de didática, ou seja, falar de Redes Sociais sem antes não ter uma mínima noção da casa (Internet) onde elas moram, seria como querer escrever, sem, primeiro, aprender as letras do alfabeto.


Pra quem já tem alguma base teórica sobre a Internet, talvez, nossa conversa seja um pouco repetitiva. Pra quem a conhece somente do ponto de vista usual/prático, creio que seja interessante e, para quem não gosta de fundamentações teóricas, a leitura não terá fim, por ser longa e complexa. Todavia, como a Internet, na minha opinião, é um divisor de águas para a realização dos nossos projetos, farei questão de dar algumas pinceladas sobre o seu processo de desenvolvimento e, ao mesmo tempo, sobre a revolução que a mesma está provocando na sociedade.

Pra início de conversa, direi uma coisa que talvez possa ajudar a minimizar a nossa ânsia quando queremos entender alguma coisa sobre o emergir da rede. É o seguinte: estamos todos no bê-á-bá do enigmático mundo dos bits, da Internet. Ninguém escapa, todos somos aprendizes. Até agora, daqueles que estudam a fenomenologia da Internet, ninguém recebeu uma profecia – como, por exemplo, aquela de Moisés sobre a montanha, onde Deus pediu-lhe pra mudar o destino do povo do Egito. Desconfie de quem, arrogantemente, apresenta conceitos prontos sobre a internet ou redes sociais. Como o mundo dos bits é uma realidade muito recente, em relação aos tradicionais meios de comunicação, o máximo que cada um de nós pode fazer é tentar criar conceitos abertos, sujeitos às mudanças constantes, visto às rápidas inovações que a rede sempre vem tendo.


O que seria, então, a Internet? é uma mídia composta por um conjunto de tecnologias integradas, surgida no final do século passado. Muitos autores defendem que a Internet não deve ser colocada no mesmo patamar do rádio e da tv porque ela tem como característica principal a descentralização da informação e da comunicação. Isso ocorre porque a Internet tem no seu DNA uma identidade aberta e horizontal na qual todos podem utilizá-la como meio de comunicação, (algo impensável no rádio e na tv, onde a informação passa primeiro por uma estrutura de poder, que a filtra de acordo com seus interesses para, em seguida, de forma vertical, publicá-la).


A Internet se diferencia das outras mídias por ser, em pouco tempo, objeto de comunicação de mais de um bilhão de pessoas no mundo. No Brasil, já passa de 80 milhões de usuários. Pela primeira vez na história, os cidadãos deixam de ser meros consumidores passivos – sentados silenciosamente diante da tv - e passam a ser produtores e/ou consumidores ativos, através das diversas possibilidades de participação e interação.


Alguns autores – Castells, Pierre Levy e outros - para mostrar o poder revolucionário da Internet em relação aos outros meios, definem-na como uma tecnologia cognitiva porque ela expande o nosso cérebro por meio da troca de ideias, da participação direta nos fóruns de discussão, nos blogs, redes sociais, etc.


A Internet causa um impacto muito forte na estrutura do poder (ou dos poderes) e na maneira como a sociedade está organizada, criando assim novas formas de pensar e de agir, o que, para muitos estudiosos, toda essa metamorfose inauguraria, na sociedade, uma nova civilização.


Alguns autores comparam a Internet com a invenção da prensa no século XV que, em poucos anos, contaminou a Europa e o mundo com a publicação de livros e jornais. Destaca Pierre: para o cidadão que sai da Idade Média, o livro era uma espécie de Facebook, o qual oxigenou a sociedade com novas ideias, tendo como consequência a descoberta de novas terras – entre outras, o nosso continente –, o renascimento da democracia, da economia e das grandes revoluções: americana, soviética, industrial, francesa, etc.


Outra pergunta curiosa e, penso, rica de sentido: Por que a Internet surge somente agora, no final da segunda metade do século passado? Não sei se já paramos pra refletir o suficiente sobre a explosão demográfica ocorrida nos últimos duzentos anos.


Pois bem. Segundo alguns pesquisadores, a Internet aparece pra resolver esse boom de gente no nosso planeta passando de 1 bilhão em 1800 para 7 bilhões de habitantes em 2010. São 7 bilhões de bocas que precisam diariamente tomar café, almoçar e jantar, além de mil e outras coisas pra fazer. Continuar com as velhos hábitos causariam um apagão geral na humanidade (7 bilhões de pessoas usando cartas, radiolas, manivelas, máquinas de datilografias e por aí vai). Essas novas tecnologias digitais, dinâmicas, interativas e velozes chegam para resolver problemas de produção, de comunicação e de organização social de forma menos burocrática.


Se você, caro leitor, leu até aqui, talvez, esteja já se perguntando. Mas, Talvacy tá ficando maluco. Esse cara tá escrevendo pra quem? Por que nós precisamos saber disso? ...


Bem, eu parto do pressuposto de que, se queremos de fato começar a entender a Internet, é necessário, em primeiro lugar, olhar a história, ampliar os horizontes, modificar nossos modelos de pensar o mundo e assim, abrir-se à nova sociedade (nova civilização).


E aqui, os jovens, na minha opinião, são/serão os protagonistas dessa nova civilização. Unidos em torno de causas justas, os jovens poderão humanizar a internet, como também, espiritualizá-la; transformá-la em redes de projetos, de iniciativas populares, de organização de grupos com fins cívicos, de promoção dos valores humanos e cristãos, de manifestações contra qualquer sistema que fere os direitos humanos, especialmente os direitos dos jovens. Ultimamente, vimos diversos exemplos cívicos daquilo que a Internet pode fazer em prol de um país ou de uma comunidade mais justa e humana.


A Igreja é uma grande privilegiada nesse mundo novo que emerge com a Internet. Por que? Porque o sentido maior da Internet é a criação de comunidades (que trataremos na próxima conversa), e a Igreja é, por natureza, uma comunidade. Seremos um diferencial nessa praça de mais um bilhão de conectados quando a nossa comunidade – que pode ser o nosso grupo de jovem, nossa paróquia, nossa diocese, um movimento em torno de um bem cívico – for capaz de oxigenar a rede com conteúdos (vídeos, fotos, áudios, etc.) portadores de boas noticias (Jesus Cristo e o seu Reino), de espiritualidade renovada e encarnada, de testemunhos edificantes, de manifestações em vista da promoção do bem comum, etc.


Pra concluir, um elemento relevante. O jovem cristão que deseja se comunicar, através da rede, deve ser evangélico (aquele que coloca Jesus Cristo e o Evangelho no centro), ecumênico, aberto e, acima de tudo, respeitador da liberdade e da individualidade de cada um. Nunca usar a internet para fazer doutrinamento, proselitismo ou querer impor verdades. O público da internet não admite nenhum conteúdo que seja imposto com sonância de autoritarismo. Tudo deve ser proposto para que, assim, crie aquilo que, na minha opinião, é um dos valores mais sagrado da Internet: o diálogo interativo e construtivo.

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