A cultura digital na Igreja: Ameaça ou esperança?


Numa sociedade cada vez mais mergulhada no mundo digital, seria possível explicar/celebrar o religioso, o sacro, o Reino, ignorando o papel das Redes Sociais e das mídias em geral?

Por dois anos consecutivos, 2010 e 2011, o papa Bento XVI, na mensagem mundial das comunicações sociais, tem sido ousado em descrever as novas mídias digitais, não apenas como novos meios de transmissão de informação, mas como uma realidade que está provocando uma mudança profunda na nossa estrutura mental e cultural e, portanto, no "nosso modo de pensar e de aprender".

Não somente Bento XVI. Mas, desde o Concílio Vaticano II, a Igreja já vem incentivando os fiéis a fazerem uso inteligente das novas mídias. Ainda em 1971, com a Instrução Pastoral “Communio et Progressio”, Paulo VI reconhecia que “os modernos meios de comunicação social dão ao homem novas possibilidades de confronto com a mensagem evangélica”.

Para João Paulo II, na encíclica
“De Redemptoris Missio”, os meios de comunicação seriam “o primeiro areópago dos tempos modernos”. Aqui, o Papa, em 1990, praticamente na gestação da era digital, reconhece um elemento fundamental ao destacar que “a experiência humana como tal se tornou uma experiência vivida através dos mass media”

Olhando no retrovisor, o canadense McLuhan, já na década de 60, afirmava que toda tecnologia traz consigo nova maneira de ser, de fazer e de pensar. Cria sistematicamente “um ambiente humano novo”, que para o canadense, seriam não meros ambientes passivos, mas novos espaços ativos e interativos.

Esse lado ativo e participativo do fiel no mundo digital podem ser constatados através das diversas manifestações religiosas. Aquilo que alguns chamam de medioteofania, hoje se expressa nos diversos serviços online, tais como: textos sagrados, orientação religiosa, pedidos de oração, a devoção das “velas virtuais”; a diversidade de programas religiosos em podcasts, aplicativos de áudio e vídeo.

Com as novas tecnologias, o transcendente se digitaliza e se manifesta no meio de nós por meio de uma infinidade de plataformas: celulares, ipods, TVweb, tablets, etc. As fronteiras entre o sagrado e o profano estão em crise porque o sagrado rompeu as paredes dos templos, tornando-se acessível em todo lugar e em qualquer momento.

Aqui, segundo Moisés Sbardelotto, mestre em comunicação, a vivência da fé nos ambientes digitais aponta para uma transformação na experiência religiosa do fiel, através da reconstrução de algumas variantes que são determinantes. Noções como tempo, espaço, comunidade, autoridade, materialidade, discursividade, ritualidade vão sendo desconstruídos e readaptados para uma nova configuração, que muitas vezes, requer choro e ranger de dentes.

Para o educomunicador espanhol, José Orihuela, o primeiro passo da mudança que se deve fazer para entender esse novo campo comunicativo é passar de uma visão instrumental tecnológica (determinismo tecnológico) para uma visão cultural comunicativa; passar de um modelo tradicional e linear de informação para um modelo interativo e ritual da comunicação.

Assim sendo, as instituições em geral e a Igreja, em particular, são convidadas a redesenhar certas estruturas e paradigmas mentais tradicionais para adequar-se a um novo modo de ser, pensar, saber e agir na era digital.

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