Uma irmã amada por todos. Parabéns.

Evanda Maria de Freitas é a aniversariante deste dia 20 de Julho. Por esta razão, viajarei no tempo, precisamente para o fim da década de setenta, com destino ao sítio Bartolomeu, no interior do Estado do Rio Grande do Norte, localizado no Nordeste do imenso Brasil, a fim de recordar alguns momentos que a minha querida e amada irmã viveu ao longo dos seus 31 de vida.

Primeiramente, escrever sobre a minha família, leva-me ao encontro profundo comigo mesmo: minhas origens, minha vida, meu sangue, minha paixão, minhas fraquezas e limites, minha pobreza e riqueza, meu ser, minha alma e muito mais. Creio que não há nada mais sincero, profundo e verdadeiro, do que a relação familiar que criamos. Todas as outras relações que fazemos ao longo da vida são apenas momentos circundados de significados e de importâncias que, com o tempo, o vento as diluem. Enquanto que, as relações com a nossa família, além de serem infiltradas em nossa personalidade, são, sobretudo, puras, transparentes e eternas.

Vamos lá então, conhecer alguns momentos relevantes vividos pela aniversariante. Ela nasceu no dia 20 de julho de 1978, na maternidade D. Eliseu Mendes, em São Miguel-RN. Seu estado de saúde, nos primeiros meses de vida, foi de grande risco. Por várias vezes, como diz o ditado do povo simples do sítio, “levou vela na mão”. Em linguagem comum usada nos dias de hoje, seria uma pessoa que está em UTI(Unidade de Tratamento Intensivo), sem esperança de vida. Naturalmente, naquela época, o povo que vivia nos sítios era abandonado pelo sistema administrativo. Os prefeitos excluíam literalmente a população da zona rural. Não tinha: estrada, posto de saúde, água encanada, energia, transporte público, escola, etc. O tratamento de saúde se resumia às diversas medicinas alternativas inventadas pelos pais e, sobretudo,a fé nas rezadeiras que prometiam a cura das crianças. Lembro algumas que as conheci quando eu era criança: Tia Raimunda, D. Isabel, Lourdes de Seu Antônio Catirina e tantas outras.

Por que a escolha do nome Evanda?

Na época, no mesmo sítio, havia uma menina, filha de Zefinha de Mariinha que se chamava Vanda. Os seus pais se engraçaram por esse nome e logo, escolheram-o. Para diferenciar um pouco, acrescentaram a letra “E” no inicio do nome, formando assim, a origem do nome “Evanda”.

Formação cristã

Foi batizada na matriz de São Miguel pelo pe. José Aires ao lados dos pais e dos seus padrinhos: tia Zefa e o tio Sebastião. Sua madrinha de crisma é a D. Lenir, viúva do seu bisavô Pedro Dantas. Sua catequista foi Neci de Antônio Caterina. No catecismo, os filhos do casal Abraão e Nucy, já nos primeiros encontros, sabiam as principais orações que seriam ensinadas pela catequista. Isto, porque, logo após em que aprendíamos a falar, nossos pais nos ensinavam. Após a janta, papai e mamãe sentavam na calçada, sob o céu estrelado, acompanhado da estupenda brisa do “aracati” que refrescava a alma. Naquele silêncio sagrado “da boca da noite” papai nos chamava para ensinar as orações. Nós, três crianças, Ni, eu e Nana, ao seu redor, para decorar as tantas orações, como por exemplo: Santo anjo do Senhor; a oração de S. Antônio; as obras de misericórdia; com Deus eu me deito, etc. Lembro que, certa vez, a catequista me pediu para ensinar-lhe a oração do “sonho de Nossa Senhora”. Aos 14 anos de idade, Evanda fez a primeira eucaristia na capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Venha Ver.

Sua infância

A sua infância foi vivida de forma muito simples: brincar, estudar e ajudar à mãe nos serviços de casa. Na época, as fantasias, as brincadeiras das crianças do sítio eram muito diferentes das da cidade. Suas amiguinhas eram as suas primas, Neta, Damiana, Beta, etc. As brincadeiras mais comuns inventadas pelas crianças eram de fazer casinhas no quintal, consultar as bonecas e tantas outras. Evanda, por ser a única mulher entre os irmãos, era a única que passava o dia em casa com sua mãe. Desde criança, ajudava nos trabalhos da casa, como lavar pratos, varrer a casa, varrer os terreiros. Além desses, havia outros trabalhos mais pesados como carregar água do cacimbão para abastecer os potes da casa, aguar o canteiro, lavar roupa. Hoje, é raro ver crianças com o mesmo ritmo de trabalho que comumente se faziam em décadas atrás. Assim como, para nós, filhos homens, tínhamos papai como um apaixonado pelo roça, para ela, havia mamãe, que a ensinou desde criança a trabalhar em todos os serviços de casa.

Relação em casa

No período de criança, ela teve como companhia, somente, eu e Ni, porque as três irmãos que nasceram depois dela, Maria, José e Rosilene morreram nos primeiros dias de vida. Guardo poucas o boas recordações do período de criança com Nana (seu apelido usado entre os irmãos). As imagens que as lembro é ela chupando consolo, chorando na rede, com um vestidinho e sandálias nos pés , correndo nos terreiros e tantas outras recordações saudáveis. Depois lembro uma cena chocante em que a feri sua cabeça com uma faca quando nós estávamos brincando no terreiro da cozinha. Sei que saiu bastante sangue e ela chorou muito. Lembro mamãe colocando o pó de café misturado com fios de cabelos no local do corte para poder parar de sangrar. Sobre o relacionamento com Ni quando criança era de medo, pois quando mamãe queria bater-lhe, ele se encarregava de pegá-la. Olhando as duas gerações, o Gilvany teve a mesma filosofia de Edilson. Eu e Nana tínhamos ele como segunda figura do pai, enquanto que para José e Evanúzia, tiveram a figura do Edilson. Com os pais ,como era de práxis, havia muito respeito. No início tinha mais proximidade com o pai e depois, na fase da adolescência, passou a aproximar-se mais da mãe e a conquistar sua confiança.

Escola

Sua primeira professora foi Emídia de Zé Leite. Com ela estudou da primeira à quarta séries. Estudou a quinta série no Venha Ver; da sexta a oitava estudou em Vila Caldeirão; O ensino médio fez o primeiro em Coronel João Pessoa, o segundo em São Miguel e o último ano, voltou para Coronel. Toda essa trajetória escolar foi marcada de muito sacrifício e dificuldades. O deslocamento à escola era feito ou a pé ou em caminhão. As estradas perigosas, pois na época não existia asfalto. A qualidade péssima do ensino e tantas outros fatores que obstaculizavam a vida de um estudante da zona rural. Em 1995 concluiu o ensino. Sem muitas motivações para continuar, bem como, sem haver incentivo da parte da família, decidiu não fazer o vestibular. No pensamento dos nossos pais, naquela época, uma filha jamais deveria sair de casa para estudar em Natal. A conclusão do ensino médio seria, segundo eles, o nível mais alto de estudos. Ela, em meio a essa atmosfera, escolheu a profissão mais nobre da região: ser professora.

A sua primeira experiência como professora foi na escola Pedro Trajano. Em seguida ensinou na Vila Caldeirão de 1996 até 1999. De 2000 a 2003 passou sem ensinar porque a sua candidada a prefeita perdeu as eleições. Em 2004, volta a trabalhar na secretaria de Educação do Venha Ver, junto com Ledjnane, secretária , a quem tem uma grande admiração e respeito. Hoje ela é bibliotecária e instrutora de computação do município.

Vida engajada na comunidade

Por ser de uma família fervorosamente católica, tornou-se logo uma líder da comunidade. Foi catequista por muitos anos no seu sitio e era sempre  à disposição do padre para animar as missas na região. Por muitas vezes participei de missas e novenas nas quais ela cantava e coordenava a liturgia. Era sempre um orgulho e um prazer grande, vê-la liderando as celebrações.

Pensou por algum tempo em ser freira. Foi verdade​?

Durante um certo período, em sua casa surgiu um boato de que Evanda queria estudar para ser Freira. Penso que isso ocorreu quando eu e Ni estávamos no convento estudando para ser padre. Esses comentários sobre a sua vocação, duraram uns dois anos, mais ou menos. O certo é que tudo não passou de uma fase de questionamentos e de interrogações sobre o futuro. Ela, pelo que pude saber, nunca se interessou por festas e namoros. Sempre foi uma jovem reservada e educada. É claro que a rígida formação religiosa e moral recebidas dos seus pais, contribuiram muito para traçar a personalidade que a descreve ate os dias atuais.

Ariosvaldo em sua vida

Segundo sua irma Evanúzia, tudo começou em 1994, período em que estudava e morava em São Miguel com o seu irmão Gilvany.. Embora, Ariosvaldo morasse na Vila Caldeirão, próximo ao sitio, no qual ela morava antes, foi somente em são Miguel, que eles passaram a se conhecer melhor e a se prepararem para o casamento. Os seus pais foram de pleno acordo com a escolha do namorado. Os motivos da aceitação foram muitos: um jovem educado, trabalhador, honesto, filho de uma família respeitada, etc. Por essa razão, eles não perderam tempo, planejaram tudo, de forma muito rápida. No ano seguinte, em 1995, mobiliaram a casa e no mesmo ano, no dia 4 de novembro se noivaram e no mês seguinte, no dia 21 de dezembro, na paroquia de são miguel, celebraram a festa de matrimonio. Dois dos seus irmãos não puderam participar da festa: eu e Gilvany.

Evanda na Vila Caldeirão

Para nós irmãos, sua casa se tornou a extensão da casa do nossos pais. Era mais uma escolha que podíamos fazer. Ela e Valdinho passaram a viver ao lado do açude do seu povoado: um lugar maravilhoso, um clima agradabilíssimo e uma vista panorâmica voltada para o grande açude. É símile ao clima de uma casa de praia. Durante minhas férias, sua casa era um dos meus espaços preferidos. Seu esposo é muito acolhedor e simpático. Logo, nos tornamos amigos. Eles também ofereciam tudo aquilo que era necessário para nos apaixonar pelo ambiente. Dentre os pratos preferidos que eles ofereciam para as refeições, destaco aqui o famoso peixe frito acompanhado pela cerveja skol, estupidamente gelada. Seu esposo, por morar ao lado do açude, sempre gostava de pescar, e, portanto, para mim, o peixe de água doce, era realmente, um pecado. Recordo, também, as festas especias durante o ano, como Natal, Ano Novo, aniversários, etc.

Sua primeira filha

Depois de três anos de casada, nasce sua primeira filha: Paula Ariadna. É claro, mais um forte motivo para estarmos juntos. Paulinha se tornou o ponto de unidade de toda a família. Era o centro das nossas atenções. Conforme descrevi em outro texto neste blog, a presença de Paula criou uma nova atmosfera na família. Evanda, junto com o seu esposo, imbuídos pela sabedoria e pelo cuidado, ofereceu e oferece a sua filha uma pedagogia educativa diferencial, fazendo-a assim, uma pessoa altamente educada, inteligente, e, sobretudo, apaixonada pelos estudos.

No ano de 2000, junto com seu esposo e filha, deixou sua casa com destino a são Paulo. Qual o motivo: desemprego. A triste e a esperançosa partida. E o mais, com ela, sua filha de apenas 2 anos de idade que fez a enfadonha viagem de 3 dias para capital dos sonhos.

Retorno aos estudos

Depois de casada e sabedora da importância dos estudos para respirar mais independência no mundo do trabalho, resolveu retomar os estudos que haviam sido interrompidos no fim do seu ensino médio. Em 2007, escolheu o curso de Letras da Universidade Regional do Cariri. Neste ano de 2009, no dia 20 de Novembro celebrará a sua formatura. Diplomada em Letras, no próximo ano, ensinará nas áreas de Literatura e Língua Portuguesa. Para o próximo ano, está incluso também, o projeto para mais um filho.

Congratulações

Neste dia 20 de julho, querida irmã, quero, em primeiro lugar, agradecer a Deus pela sua amizade, sua vida, seu jeito cativante e sensível de nos recepcionar em sua vida. Quero desejar-lhe muita luz, sabedoria, saúde e paz.

Que todos os seus projetos sejam realizados e que sua vida seja plena de felicidades. Parabéns por ser uma irmã afetuosa; uma mãe que sabe amar e educar distintamente a filha e, por fim, parabéns pelo seu aniversario.

Um grande beijo e um forte abraço,

com afeto,

seu irmão.

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