Educação ONLIFE: A Autonomia Descentralizada no “Novo normal”

Tudo foi muito rápido. De uma hora para outra a pandemia acelerou o espírito inquieto e criativo do professor. Para aquele que já vinha com um pé dentro do universo digital, interagindo com seus estudantes pelas mídias sociais, usando Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), realizando o ensino-aprendizagem híbrido, a Covid-19 foi apenas um “empurrãozinho" para colocar de uma vez por todas também o outro pé dentro da contundente e irreversível cultura digital.


Da mesma forma, em se tratando de impacto, o choque foi bem menor para a escola ou faculdade que já se utilizava de livros didáticos digitais, bibliotecas e plataformas  de aprendizagem online. Certamente, tanto professores quanto a direção das instituições de ensino já previam que, cedo ou tarde, presenciaríamos a consolidação do ensino-aprendizagem híbrido ou ensino-aprendizagem “ONLIFE”, como preferimos chamar, termo cunhado pelo filósofo italiano Luciano Floridi, o qual descreve a interrelação indissolúvel da realidade online com a offline.

A nuvem de palavras que vemos abaixo é uma síntese avaliativa feita pelos professores e estudantes ao término da segunda unidade temática do “Curso de Ensino-Aprendizagem Onlife”, promovido pela Paróquia de Apodi. Os termos "Autonomia, coragem, inovação, ressignificar, reinventar, atitude, esperança", entre outras, foram as palavras mais destacadas, quando pedi  que resumissem em uma palavra o que de mais relevante aprenderam na segunda unidade. Elas revelam que, se parássemos o curso neste ponto, sem realizar as três demais unidades, já teríamos alcançado o objetivo do mesmo: o de robustecer a autonomia digital dos membros do curso.




Os inquiet@s do curso perceberam que reinventar, ressignificar, inovar em suas práticas pedagógicas bem como conhecer as novas plataformas e práticas do ensino-aprendizagem no ambiente digital são as estratégias mais inteligentes e urgente para atender às exigências do “novo normal” da comunidade acadêmica na era pós-coronavírus. 

Todos nós, que há anos estudamos as transformações culturais provocadas pelas novas tecnologias de comunicação e informação, éramos conscientes da revolução digital que estamos vivendo. Sem nenhum temor, há tempos repetíamos o slogan de que ainda hoje nos deparamos com um modelo de escola do Século XIX, professores com práticas pedagógicas do Século XX e estudantes com um cérebro digital/VUCA do Século XXI.

Desde 2008 - quando comecei a estudar a cultura digital em Roma e, especificamente, entre 2016 e 2019, quando foquei o “Estudo de Caso” do meu doutorado no poder revolucionário da autonomia comunicativa digital (autocomunicação) no processo de aprendizagem dos estudantes - já fazia sérias reflexões críticas sobre o “porquê" da resistência ou indiferença das instituições de ensino com relação às novas práticas pedagógicas de aprendizagem amplamente adotadas no dia-a-dia dos estudantes imersos na cultura digital.

A pandemia acelerou parte das respostas dos “porquês” que fazia. O meu diagnóstico é que as instituições de ensino não perderão mais energia discutindo se vale a pena ou não adotar plataformas online de ensino-aprendizagem. No pós-pandemia, mesmo as escolas e universidades mais conservadoras e resistentes à cultura digital, vão criar plataformas online paralelas às plataformas convencionais (sala de aula física, bibliotecas analógicas, etc.). 


Por quê?


Pelo simples motivo/fato de que muitos professores e estudantes assimilaram ao longo da quarentena as vantagens do ensino-aprendizagem online. Aprenderam a usar muitas plataformas interativas, intuitivas e gratuitas. Aprenderam que podem lecionar de forma humanizada, personalizada e criativa, e com um percentual de aprendizagem bem superior à aprendizagem nos modelos convencionais analógicos.

Deste modo, a pressão pela transformação digital na educação virá das pontas para o centro, da base para o topo. São os estudantes e professores “onlife” que exigirão das suas instituições de ensino não apenas uma adaptação ao digital, como ainda estão fazendo neste período de distanciamento social, mas uma conversão ainda mais radical ao novo paradigma educacional “onlife”, fundado na hibridização simultânea do ensino-aprendizagem online e offline.

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