Em gestação, um novo indivíduo, uma nova civilização
Entramos numa nova sociedade, com
modelo organizacional e com paradigmas mentais e estruturais radicalmente
diferentes, de todas as que existiram até hoje na história da humanidade.
Modernidade líquida é o nome dado por Bauman, um filósofo polonês, para descrever a
realidade atual. Nesta nova sociedade fluida,
mutante, sem forma, instável, o filósofo faz uma crítica ao indivíduo, quando ele passa de sujeito a objeto de consumo. O encanto do mercado o domina, ele perde o controle diante da magia propagada pelas fantasias do mundo consumista. Saindo da
condição de sujeito, o ser humano torna-se facilmente
manipulável, no fluxo da sociedade em constante metamorfose.
Se a sociedade é
flutuante, os relacionamentos também entram no ritmo, as escolhas aumentam e o
compromisso da estabilidade na relação já quase não existe. O “outro” na
relação é útil até o momento que dá satisfação e prazer. O ser humano vira
objeto descartável, quando não agrada mais, joga fora, sem tá nem aí com o
sentimento da outra pessoa.
Segundo Bauman, não há um conceito
pronto, formal sobre a atual sociedade porque ela muda constantemente. Por ser
líquida, mutante, ela não se enquadra em nenhum padrão normativo estável porque
a sociedade vive numa atmosfera tempestiva, em constante agitação, altera seu
padrão organizacional sempre, de acordo com o fluxo interativo das
relações.
A forma, a norma, os mandamentos
ensinados, decorados e rezados quando criança para moldar e conduzir a vida estão
se diluindo. Igreja, a
escola, a política, as tradicionais instituições, costumes e condutas estão se derretendo no fluxo interativo e
descentralizado da atual sociedade rede.
O título do livro de Marshall Berman
resume muito bem as mudanças que a sociedade vive: “Tudo o que é sólido,
desmancha no ar”. Os valores, tradições e doutrinas de outrora são
questionados, relativizados, muitos deles, ignorados.
Os mecanismos horizontais e descentralizados da sociedade-rede e o acesso universal do conhecimento são fatores determinantes na formação da "nova civilização". Somente agora, todo
mundo tem a oportunidade e a liberdade de ler, escrever, tem o direito sagrado
de ter sua opinião e escolher a sua filosofia de vida, bem como, escolher sua
Igreja. Diz Peter Berger, na modernidade, a Igreja da “Tradição" cede
lugar para a Igreja das “opções”.
A sociedade derretida leva o ser humano
a viver num oceano de incertezas, angustiante. Os padrões de organização na
sociedade sólida eram duradouros, consistentes. Invés, o indivíduo na sociedade
líquida tem uma estrutura cognitiva, relacional, comportamental, bem diferente
de tudo o que já viu até hoje na história humana.
Há duas correntes que interpretam essa mudança paradigmática na sociedade: a corrente filosófica chamada
“estruturalismo” e a corrente das novas ciências das redes sociais que emergem com a cultura digital.
Segundo o pensamento “estruturalista”, “a ideia de fundo
não é o ser, mas a relação, não é o sujeito, mas a estrutura. Os homens não têm
significado e não existem fora das relações que os instituem e especificam o
seu comportamento”.
Para as novas ciências da rede, o fluxo
interativo e relacional dos indivíduos, alargado com a chegada das redes
digitais, coloca-os numa pista de dança eclética, com ritmos musicais variados.
E a novidade é: quem determina a música não é mais o djay, mas o estado de espírito das pessoas. Ou como diz Carlos
Nepomuceno, “o rabo balança o cachorro”.
No novo universo da sociedade-rede, que empodera cada indivíduo - dando-lhe oportunidade para ser sujeito ativo,
através do ambiente digital - todas as estruturas, normas e organizações sólidas
serão ressignificadas, questionadas, e muitas delas, eliminadas.
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