Em quem o padre vai votar?
Mais uma campanha política chegando e algumas pessoas, curiosamente, perguntam em quem o padre vai votar ou pra quem vai torcer.
Pra início de conversa, na minha escassa percepção política, nada há de novo debaixo do céu de Mossoró com as eleições suplementares de 04 de maio.
A única novidade veio do judiciário com o afastamento da prefeita Cláudia Regina. Pronto.
Mágica pode até funcionar na televisão e no circo, na política, não. Mossoró tem uma atmosfera política intoxicada há muito tempo por grupos que governam pra si mesmos e para uma pequena elite da cidade. São políticos ligados a grupos familiares, empresários, homens e mulheres que usam o espaço público para se auto-promoverem, obterem sucesso nos seus negócios e fazer da política o seu meio de sobrevivência. Entram na política - com rara exceção de alguns deles - não com vocação pra cuidar da cidade (pólis), mas com vocação pra cuidar da sua família e dos seus interesses particulares.
Para se eternizar no poder, alimentam e manipulam a consciência de muitas pessoas, politicamente analfabetas, através de empregos e conchaves. Essas pessoas perdem o direito de exercer a sua democracia e a sua liberdade de expressão, ficam escravas dos seus apadrinhamentos políticos, vivem sob a ditadura do medo. Conheço pessoas que têm grande desejo de falar às claras sobre o que pensam a respeito de determinado político, mas se sentem coagidas a engolir silenciosamente aquilo que pensam. É triste.
Políticos que manipulam o cidadão - com sorrisos e abraços, com promessas demagógicas, com cargos comissionados, etc. - nunca respeitaram e exercitaram a democracia. Políticos assim são autocratas, autoritários e arrogantes, adoram ser aplaudidos e reconhecidos como deuses, salvadores dos problemas da cidade. Pura ilusão!
Ambientes políticos assim continuarão a existir enquanto houver uma massa despolitizada.
Quanto maior for o analfabetismo democrático, maior é a taxa de manipulação do cidadão. Infelizmente, ainda vivemos numa realidade em que o analfabetismo político e democrático é generalizado. Democracia é empoderar as pessoas, é ter liberdade de viver seu ser político, por isso é urgente a necessidade de educar o povo para exercer livremente a sua democracia.
Diante de uma atmosfera política doentia, elitista, autoritária, conservadora - que há décadas alimenta os mesmos vícios, as mesmas práticas assistencialistas e manipuladoras - como acreditar num gestor ou gestora que venha cuidar da cidade, não com medidas compensatórias e fragmentadas, mas com uma gestão que contemple a cidade e o campo de forma justa e imparcial, priorizando às áreas mais críticas e excluídas? Que ouse governar invertendo a pirâmide, da periferia para o centro.
Podemos dizer que a partir de 04 de maio contaremos com uma nova gestão que pense os problemas conjunturais da cidade? Projetos que contemplem a melhoria do município como um todo? Que reduza o extermínio de jovens pobres e negros; que oferece segurança em toda a cidade, e não medidas paliativas, implantando BIC's aqui e acolá pra tapear e esconder a violência generalizada? Será que teremos um gestor que, de fato, defenda a bandeira da educação pública de qualidade como sua maior prioridade?
Será que teremos uma nova gestão que reduza a impunidade, os cargos comissionados, que tenha a alma transparente, prestando conta de tudo?
Que futuro o novo gestor eleito pensa pra Mossoró? Em primeiro lugar, o que está em jogo, o futuro da cidade ou o futuro dele e da sua família? Estaria ele pensando e planejando políticas públicas emancipatórias visando a cidade daqui a 50 anos? Será que o novo gestor não teria a mesma visão míope dos demais, que pensam apenas políticas acanhadas para os próximos dois, três anos?
Teremos a partir de maio uma nova gestão que revele claramente quem é quem e quanto cada um recebe da máquina administrativa, revelando pro povo a misteriosa “caixa preta” das folhas de pagamento do município?
Poderia continuar noite a dentro com muitos outros questionamentos, mas esses são suficientes pra confirmar o que eu disse no início da conversa de que nada vai mudar a partir de 4 maio.
Não estou sendo pessimista, nem, muito menos, perdendo a crença na política. Sinceramente, não acredito muito no sistema político que temos, nem muito menos nessa democracia disfarçada, porque creio que não teremos uma verdadeira democracia enquanto não houver um povo politizado e consciente dos seus direitos e deveres.
Enfim, respondendo a pergunta acima, não votarei e não torcerei por nenhum candidato. Vejo que, como padre e como cidadão que acredita na Política do "P" maiúsculo, quanto mais distante das boatarias, das guerras de intrigas e fofocas, mais livre serei e melhor exercitarei a democracia cristã.
Mais do que torcer por partido A ou B, o povo de Mossoró precisa urgente de políticos vocacionados e autônomos, que tenham coragem de romper com as obsoletas e viciosas práticas de politizar. Assim como a Igreja precisa de conversão pastoral, a sociedade precisa urgentemente de uma "conversão política".
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