O tecelão das Redes Sociais: quem é e o que faz
Se é a profissão do futuro, não sei, mas,
que haverá uma grande demanda de tecelões na emergente sociedade em rede,
disso, não tenho dúvida. O mundo tornar-se-á sempre mais conectado, formando
pequenos mundos (hubs) e, portanto, daí surgem, naturalmente, os tecelões para
articular e animar na formação da sociedade-rede.
Isso não é uma hipótese, mas
uma realidade no meio de nós. Ultimamente, somos testemunhas da sociedade
pipocando de redes por todos os lados. Em 2011, as redes sociais, isto é, as pessoas
interagindo por meio das mídias sociais (Facebook, Twitter, etc.), já revelaram
o seu poder transformador, através das mobilizações nos quatro quantos do
planeta.
Aqui, redes não
são cabos de aço, nem robôs, mas, fluxos, interação entre pessoas, com
sonhos e com ideias inovadoras, com sentimentos cívicos, com consciência
política. As redes sociais são pessoas que se conectam entre si, por meio de plataformas de mídias sociais, diminuindo assim, o tamanho do mundo. Nas leituras que venho fazendo,
recentemente, para a elaboração da minha tese sobre informação nas redes
sociais, há alguns autores que compartilham a ideia dos pequenos mundos que
emerge na sociedade-rede. Destaco, por exemplo, Castells, Levy, Watts Duncan,
Clay Shirk e o brasileiro Augusto de Franco.
O tecelão do passado
No universo da língua inglesa, a palavra
tecelão, no sentido como descrevo aqui, significa "Netweaver" (net +
weaver = tecelão de rede).
A arte de tecer redes é conhecida por ser
uma das formas de artesanato mais antiga. Talvez seja tão antiga quanto a
humanidade. Na era neolítica, há aproximadamente 12.000 anos, os homens já
teciam redes, usando galhos e ramos para construir cestas, barreiras, e, mais
adiante, produzirem suas próprias vestimentas.
Hoje, o tecelão, como
conhecíamos, está quase em extinção, mas ainda há alguns que fazem belas redes,
com estilo artesanal. Minha vó era uma tecelã de mão cheia, por exemplo.
De onde veio a inspiração do tecelão?
Provavelmente, ele tenha se inspirado nas teias de aranha ou dos ninhos dos
pássaros.
O tecelão também é o nome de um pássaro da família dos pardais, que vive em grandes bandos, nas regiões quentes da Ásia, África e Europa. Alimenta-se de sementes e seus ninhos são feitos de ramos de plantas variadas. Cada ninho é uma uma verdadeira obra de arte.
O tecelão também é o nome de um pássaro da família dos pardais, que vive em grandes bandos, nas regiões quentes da Ásia, África e Europa. Alimenta-se de sementes e seus ninhos são feitos de ramos de plantas variadas. Cada ninho é uma uma verdadeira obra de arte.
O tecelão do futuro
Já há muita literatura sobre o papel do articulador e animador de redes sociais. No Brasil, na minha opinião, quem
mais estudou e tem experiência direta como tecelão de redes sociais (não de
mídia sociais) é Augusto de Franco. No seu blog, podemos conferir vários textos acadêmicos e livros sobre o tema. Ele usa o termo em inglês (Netweaver). Eu, invés, prefiro chamar de tecelão porque creio que seja mais
simbólico e convencional.
Fundado sobre a literatura de Augusto,
descreverei, de modo objetivo, a identidade e as características do tecelão do
século XXI.
Um conceito enxuto de tecelão, poderia ser resumido como aquele e aquela que articulam e animam redes sociais. O tecelão
não é um especialista em análise de redes sociais, mas alguém que tece redes
vivas, redes de relações pessoais, através das mídias sociais ou das relações presenciais.
O tecelão tem convicções próprias sobre o
que pensa e o que faz, reflete uma personalidade autentica, madura, autodeterminada.
Faz tudo pra tentar tecer uma rede com o máximo grau de descentralização. E se a rede tiver um padrão distribuído, ele se realiza por inteiro, pois, afinal, um
grande desejo do tecelão é articular uma rede distribuída. Todavia, ele é consciente de que vivemos em uma sociedade caracterizada, historicamente, por um padrão de de organização hierárquica.
O tecelão é visto também como a pessoa
dotada de insights altamente criativos. Não tem medo de
arriscar, afinal, tentar fazer o que ele acredita, já é tudo, mesmo que não chegue ao almejado. Por
isso, é um auto-ditada, não teme aos desafios, desbrava novos mundos, novas
possibilidades.
O tecelão evita fazer algo em vista de recompensa, faz por questão
de identificação, de amor cívico. Para o tecelão "é quase um dever moral
compartilhar informação, resolver problemas e depois dar soluções".
O tecelão se distancia de qualquer postura
autoritária, é hostil à censura, ao segredo, ao uso da força. Pra ele, a
reputação é um valor sagrado porque sem ela, não rende, nada do que faz, tem credibilidade.
O tecelão não sente a necessidade de traçar caminhos pré-determinados, normas definidas, aliás, ele acha tudo isso muito chato. Como dizia,
poeticamente, Clarice Lispector, "perder-se também é caminho".
Ainda sob a ótica de Augusto de
Franco, o tecelão não precisa ter habilidades técnicas, saber programar
ou escrever em HTML5.
Ele é uma pessoa humanizada e espiritualizada, tem seu jeito livre e criativo de
viver sua fé e suas crenças. Possui uma identidade democrática, adora
voluntariado e cooperativismo; acredita no glocalismo, no trabalho em prol da
sua rua, da sua cidade, tece redes de grupos e associações de bairros,
usando as plataformas que tem à sua disposição: o twitter, o facebook, o orkut,
um blog. Ele anima rede, também, fora do digital, promovendo atividades
presenciais.
A tecelagem é a criação de novos mundos no
mundo de humanos que somos. Não surge de um grupo de seres dotados de
qualidades excepcionais, super-humanos. O tecelão não estar por vir, ele já
está entre nós. O tecelão somos nós, é você. Se você não fizer, nada muda em
seu mundo, pior ainda se você se encontra em um mundo fantasiado de ilusões,
alienante.
Albert Schweitzer, em 1952, quando foi receber
o Prêmio Nobel da Paz, disse no seu discurso: nós "nos tornamos
tanto mais desumanos quanto mais nos convertemos em super-homens". Foi
assim que fomos doutrinados durante milênios, com a ideia desumana de que
deveríamos nos tornar pessoas dotadas, com virtudes heroicas. Tudo bem, mas,
essas ideias nos colocam dentro de uma visão darwiniana, de que
devemos sempre vencer os nossos concorrentes, eliminá-los, portanto, uma visão excludente e desumana.
"Ele está no meio de
nós" reforça Augusto, ou seja, muita gente já pensa e vive em um mundo líquido, fluido, num padrão de rede
distribuída, interconectando os mundos que estão emergindo com as mídias sociais. São
pessoas com espírito livre, independentes, despojadas, e que, no geral, opõem-se ao modelo piramidal e hierárquico das organizações.
Como diz o tecelão Augusto de Franco, no final, o que conta é
está antenado nos highly connected
worlds, ou seja, nos mundos altamente conectados, criando redes de humanos com ideias novas e valores cívicos. São estes, os tecelões do século XXI, que farão o diferencial na sociedade-rede em metamorfose.
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